Bobby Darin foi uma das mais resplandecentes estrelas do show business norte-americano da década de 50. Artista multi-facetadoo, Darin começou por se distinguir no rock’n’roll, mas foi sobretudo no jazz que ganhou notoriedade, rivalizando de perto com Frank Sinatra. Aliás, todos nós conhecemos o seu grande êxito, Mack The Knife. Em dez anos, Bobby Darin amealhou dois Grammies, várias músicas nos topos da tabela e reconhecimento internacional, para além de uma carreira convincente no cinema, com direito a uma nomeação ao Oscar. Contudo, a partir daí, Bobby Darin entrou numa espiral descendente, até a uma total irrelevância: andou pelo mundo da política e pelas canções de intervenção, até falecer em 1973.
2005 foi o ano perfeito para trazer para o cinema a atribulada vida de Bobby Darin (que inclui uma doença vascular prolongada, uma irmã que afinal era a sua mãe e uma esposa mais nova que era estrela de cinema), num projecto que já se arrastava por quinze anos e que chegou a ter Bruce Willis conotado com o papel principal: vivia-se um revivalismo do bio-pic e Kevin Spacey, um fã assumido, assumia a responsabilidade de realizar e dar vida ao projecto. Spacey não só escreveu, realizou e interpretou Bobby Darin – O Amor É Eterno, como ainda cantou os seus próprios números. Em formato bio-pic musical fantasista, Bobby Darin – O Amor É Eterno arraca como um spin-off de 8 1/2, mas aproxima-se depois do exemplo de De-Lovely, que reinventa a matriz musical dos clássicos dos anos 50, onde as canções integram o próprio argumento, como se a vida fosse um palco e todos nós irrompêssemos a dançar pela rua acima, em coreografias divertidas, sempre que um momento dramático acontecesse.
No entanto, se esta fórmula é divertida e resulta em De-Lovely ou mesmo de forma ligeiramente diferente em Moulin Rouge, Bobby Darin – O Amor É Eterno fica, claramente, aquém das expectativas. Num registo fantasista – as recordações são como raios de sol, fazemos delas o que quisermos, é explicado às tantas no filme -, Bobby Darin – O Amor É Eterno recria livremente a vida e obra de Bobby Darin, sem grandes preocupações cronológicas ou dramáticas, partindo do infeliz pressuposto de que o espectador já conhece e é fã do cantor.
Com a profundidade de um telefilme, as personagens não passam de meras caricaturas sem espessura dramática, que dão saltos cronológicos gigantes entre cenas: num momento temos um Bobby Darin a tentar vingar na música e no momento seguinte já ele é uma estrela no espectáculo norte-americano, para logo depois já estar na fossa e, a seguir, estar de volta às actuações. Como sempre, quando a contextualização começa a ficar complicada, recorre-se às duas bengalas mais fáceis de todas: ao narrador e às montagens. Tudo sem uma contextualização histórica e com muitas poucas explicações pessoais: a doença de Bobby Darin praticamente não é explorada, tal como a atribulada relação com a sua esposa, Sandra Dee (Kate Bosworth).
Contudo, o pior de Bobby Darin – O Amor É Eterno tem a ver com a triste figura que o filme faz enquanto tributo ao artista norte-americano. Porque para quem não o conhece, não é dado a mostrar as suas qualidades enquanto compositor, intérprete ou músico. Por exemplo, aposto que quem não conheça a obra de Johnny Cash e veja Walk The Line, fique com curiosidade suficiente para ir escutar alguns dos seus discos. Com Bobby Darin – O Amor É Eterno isso nunca acontece – porque o entendimento das qualidades de Darin é tido como garantido. Bobby Darin – O Amor É Eterno funciona como uma celebração da vida (e não tanto da obra) de Bobby Darin, feita por um fã sobretudo para os fãs. Para os outros, o Double Cheeseburger poderá não ser aborrecido (apesar de tudo, as suas canções são boas e o talento de Kevin Spacey é nato), mas saberá, certamente, a muito pouco.
Título: Beyond The Sea
Realizador: Kevin Spacey
Ano: 2004