| CRÍTICAS | 007 – Sem Tempo Para Morrer

Quem diria que, 15 anos depois de se estrear na pele do mais famoso espião do mundo, Daniel Craig se iria despedir do papel assim. Sem Tempo Para Morrer não só encerra um ciclo na vida de Bond, James Bond, como consagra Craig como um dos 007 mais populares de sempre e com a maior longevidade de sempre. Foram 5 filmes divididos pelos 15 anos que passaram entre Casino Royale e Sem Tempo Para Morrer, se bem que este último teve a sua estreia arrastada durante meses e meses a fio, culpa de uma certa emergência higiénico-sanitária e alguma desorientação por parte da produtora.

Sem Tempo Para Morrer é então uma sequela directa a 007 – Spectre (e mais um título independente à obra literária de Ian Fleming), até porque se houve coisa que estes cinco filmes com Daniel Craig fizeram foi criar uma espécie de universo cinemático James Bond, em que os filmes aprecem todos integrados na mesma sequência narrativa. Por isso, Sem Tempo Para Morrer não só abre com James Bond (Daniel Craig) na reforma, a curtir a vida com a namorada Léa Seydoux numa pitoresca vila italiana, como ainda faz referência a Vesper Lynd (Eva Green), a bond girl de Casino Royale, caída em combate.

Naquela que é a mais longa abertura de sempre de um filme 007, Sem Tempo Para Morrer começa da melhor forma. Há ainda um prólogo dentro do prólogo, que faz a origem de Léa Seydoux em registo slasher movie (com um assassino de máscara a lembrar um Ghostface ou um Michael Myers), e depois uma sequência de acção cheia de octanas no sangue, que vai obrigar Bond a repensar a sua vida. Depois entram os créditos iniciais, numa sequência tão aborrecida quanto a theme song de Billie Eilish, que nos deixa desgostosos. Afinal de contas, estes são elementos importantes nestes filmes e, quando correm mal, deixam-nos logo nervosos e com más energias em relação ao que vem a seguir.

É certo que Sem Tempo Para Morrer não volta a ter a pica daquela sequência inicial, que está sempre mais perto de um Die Hard do que um filme 007, mas este último filme de Daniel Craig é o melhor desde… Casino Royale. Se bem que há de sofrer do mesmo mal que os anteriores filmes da série, Quantum of Solace, Skyfall e Spectre: de um enfartamento que leva à imobilização, enchendo o argumento até já não conseguirmos seguir tanta intriga internacional. Se bem que aqui isso acontece pela necessidade de fechar o círculo, o que significa que obriga a ir repescar uma série de personagens anteriores, como se fosse um best of.

Assim, para além da referência a Vesper Lynd que já referi acima, há de vir Felix Leiter (Jeffrey Wright) tirar Bond da reforma; havemos de ir visitar Blofeld (Christoph Waltz) à prisão; e, claro, há M (Ralph Fiennes), Q (Ben Whishaw) e Monneypenny (Naomie Harris). E há ainda um novo 007, que havia tomado o lugar de Bond após a sua reforma, que não só é uma mulher, como é negra (Lasanha Lynch). Veremos o que isso significará de futuro. Contudo, o que de melhor aconteceu a Sem Tempo Para Morrer terá mesmo sido o despedimento de Danny Boyle da cadeira de realizador, já que Cary Joji Fukunaga acaba por injectar uma vitalidade inesperada no filme. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de Rami Malek, que apesar de ser um vilão na boa tradição bondiana (desfigurado e com um nome impecável, Lyutsifer Safin), é um autêntico tiro ao lado e um miscast evidente.

[Este parágrafo contém spoilers] Sem Tempo Para Morrer é então um óptimo filme de despedida, que tem ainda mais uma novidade para o imaginário Bond. Depois de lhe terem dado uma esposa, em 007 – Ao Serviço de sua Majestade (a tal que morre em Portugal, em plena Serra da Arrábida), James Bond recebe aqui uma filha. Será que isso também terá impacto no futuro? Por tudo isso, Sem Tempo Para Morrer merece referência e um Double Cheeseburger. E o que é que não merece de todo? Que o acusem de ser apenas um longo anúncio à Aston Martin (se bem que teria corrido esse risco nas mãos de Danny Boyle).

Título: No Time to Die
Realizador: Cary Joji Fukunaga
Ano: 2021

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