Não sabia muito bem o que esperar de um filme indonésio. A Netflix tem tido o mérito de trazer para o mainstream produções de países improváveis (veja-se o mais ou menos recente fenómeno coreano), mas, diga-se, cada vez mais essas produções parecem vir do país Netflix do que do país que dizem ser de origem. Mas pronto, um processo de uniformização cultural para a mercadorizar não é propriamente novidade.
Mas vamos a Fotocopiadora. À superfície, é apenas uma história simples. A protagonista, Suryani, perde uma bolsa académica por aparecerem selfies dela embriagada. Ela, que não se lembra de o ter feito ou de ter feito alguma coisa que aí conduzisse, tentar perceber o que se passa e, pelo caminho, bate de frente na parede do machismo e da misoginia sistémicos que, a cada momento, a culpam de todos os males do mundo.
É certo que há características específicas do filme que lhe dão um ar exótico. Por exemplo, não estou convencido de não ter apanhado cancro do pulmão por ter visto tanta gente a fumar ao longo do filme. Mas há outras idiossincrasias que tornam o filme inesperado. A rigidez religiosa daquela sociedade faz com que mais coisas estejam em jogo. Sabemos que Suryani, por ser mulher, está sempre a uma unha negra de ser castigada por qualquer coisa e a estranheza da moral daquelas personagens faz com que nunca tenhamos bem a certeza de quão tenebroso esse castigo iminente poderá ser.
O filme leva o seu tempo a estabelecer as suas premissas e, a partir de meio, sem darmos por ela, já vamos a alta velocidade, demasiado preocupados em descobrir o que raio se passa ali. O problema está no fim do filme. Descoberto o vilão, os seus motivos são pífios e implausíveis e uma história que era até aí bastante subtil, torna-se óbvia e até caricatural. E por falar em caricatura, a cena final, com uma espécie de catarse colectiva digna de filme adolescente patrocinado por uma associação qualquer contra a violência de género, consegue estragar muito do que o resto do filme tanto se tinha esforçado para construir. Não se trata de um filme mau, mas dá a ideia de que o desejo de se ser “actual” e de apelar aos gostos das massas acabou por suplantar o ímpeto criativo. É uma pena e é um McChicken.
* texto por Diogo Augusto
Título: Penyalin Cahaya
Realizador: Wregas Bhanuteja
Ano: 2021