| CRÍTICAS | Jogo em Casa

Os underdogs desportivos sempre foram histórias com tradição no cinema. E Rocky até pode ter sido o primeiro a deixar lastro, mas foi a Disney que se tornou especialista nestes filmes. Jamaica Abaixo de Zero terá sido o mais popular (e o melhor), mas basta dar uma vista de olhos na diagonal pelo seu serviço de streaming para encontrar uma série deles. E a Netflix, que muitas vezes procura copiar as técnicas autofágicas da Disney, tentou afincar o dente a essa fórmula também com Jogo em Casa, uma produção da Happy Madison, de Adam Sandler.

Jogo em Casa é baseado no caso real de Sean Payton (interpretado por Kevin James, que depois de ter tentado o cinema de terror (olá Becky), assume aqui uma postura mais… madura e confiante), reputado treinador da NFL que, depois de ter ganho o SuperBowl com os New Orleans Saints, acabou afastado e suspenso por 1 ano após o chamado Bountygate, onde se descobriu que a equipa pagava a jogadores para lesionar deliberadamente determinados adversários. Apesar de esse ser um dos mais infames escândalos desportivos de sempre, Jogo em Casa procura higieniza-lo de forma desavergonhada, passando um pano por cima por motivos dramáticos. Afinal de contas, ninguém quer ver um feelgood movie sobre alguém que estava envolvido num esquema para magoar os oponentes, não é? Por isso, quando o filho lhe pergunta se ele sabia de alguma coisa, Payton responde convenientemente nim. Pronto, tudo resolvido. De forma nojenta, mas resolvido.

Procuremos então ignorar essa parte e continuemos. Sean Payton está então suspenso e aproveita para ir visitar o filho e tentar reconectar-se com ele. O filho (Tait Blum) joga numa pequena equipa do Texas que é a pior do campeonato, com um treinador bêbado (Gary Valentine a pilhar descaradamente o treinador de Big Mouth) e outro que não percebe nada daquilo (Taylor Lautner), à frente de um grupo de miúdos que gosta mais de outras coisas na vida do que futebol americano. Payton vai acabar por assumir a equipa e, claro, leva-los até à final do campeonato, contra todas as previsões.

São vários os momentos em que Payton vai ter que confrontar vários pais que procuram viver os seus sonhos frustradas através dos filhos, naquela crítica velada de quem procura passar uma mensagem moral bonita, mas na verdade Jogo em Casa acaba por pregar exactamente o contrário. Pela enésima vez, Jogo em Casa glorifica a competição do desporto escolar, um dos maiores flagelos transversal a todo o desporto juvenil, porque “só assim as crianças aprendem como é a vida”. Bardamerda, vão mas é ver o documentário Over the Limite para perceber que fazer capas de jornal sempre que o Ruben Amorim lança miúdos de 16 anos não faz sentido nenhum.

Apesar de tentar a redenção no final, Jogo em Casa acaba por ter todas as motivações erradas. Além disso, tem ainda um terceiro flagelo: o de ir tirar do túmulo Rob Schneider. E se há coisa pior que o Rob Schneider, só mesmo o Rob Schneider de manbun. A sua personagem é tão exageradamente caricatural, que vomitamos um bocadinho na boca sempre que aparece. E é nessa indecisão, a de nunca se decidir entre a comédia pateta à Adam Sandler e a do feelgood movie inspirador, que Jogo em Casa se arrasta até ao final. Só motivos para justificar o Hamburga de Choco final.

Título: Home Team
Realizador: Charles Kinnane & Daniel Kinnane
Ano: 2022

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