| CRÍTICAS | O Monstro do Espaço

No cinema como na vida real, a corrida ao espaço começou por ser uma coisa exclusiva dos norte-americanos e dos soviéticos. Só raras vezes é que aconteciam excepções. No cinema, uma dela foi O Monstro do Espaço, modesto telefilme inglês feito pela Hammer, quando a Hammer ainda não se tinha especializado em terror, e que serviu precisamente como porta de entrada da produtora britânica para o mundo do fantástico.

O Monstro do Espaço começa com a queda num quintal inglês de um objecto voador não identificado. Forma-se grande aparato no local, com autoridades, jornalistas e muitos curiosos, e rapidamente descobrimos que aquele foguetão é um projecto ultra-secreto inglês, liderado pelo professor Quatermass (o norte-americano Brian Donlevy), que havia sido lançado sem autorização e que, claro, se despenhou logo de seguida. No entanto, enquanto toda a gente está piúrça com a sua atitude, Quatermass rejubila com o sucesso da operação. Afinal de contas, pode ter sido apenas por breves momentos, mas pela primeira vez na História um foguetão chegou aonde nunca outro Homem havia estado.

Só que, quando abrem a porta do foguetão, a surpresa! Dos três astronautas que haviam partido, apenas um vem no interior. E vem catatónico. Victor Carroon (Richard Wordsworth) não só não fala, como os ossos parecem inchados e a sua pele está ressequida. O professor Quatermass leva-o para ser observado nos seus laboratórios porque nenhum hospital sabe tratar um homem que foi ao espaço. A lógica é imbatível, num filme que até se esforça por apresentar uma ficção-científica bastante realista.

Apesar do baixo orçamento, O Monstro do Espaço é sempre bastante eficiente, seja na lógica narrativa, económica mas completa, seja nos efeitos-especiais, modestos mas eficientes. E apesar de, aparentemente, nada acontecer durante relativamente algum tempo, mantém-nos sempre agarrados na tentativa de descobrir o que aconteceu aquele astronauta durante os breves momentos em que esteve fora da atmosfera terrestre. Isso deve-se sobretudo ao ritmo cocaínado que Brian Donlevy incute na sua personagem, sempre com diálogos rápidos e respostas espirituosas na ponta da lingua, como se lhe tivessem dito que ele vinha ao Reino Unido fazer uma comédia screwball e ele não quis desperdiçar o tempo todo que esteve em preparação para esse papel.

Entretanto [spoilers] descobrimos que o astronauta trouxe um parasita no corpo e se está a transformar no monstro do título em português (já nos anos 50 as traduções dos títulos dos filmes para português procuravam ser mais papistas do que o Papa) e O Monstro do Espaço torna-se num percursor do body horror (se bem que também há um certo maravilhamento pelas criaturas do além, que é muito lovecraftiano). Um ano depois da sua estreia, uma criança morreria na sala de cinema, ao ver o monstro, e O Monstro do Espaço entraria para o livro dos recordes do Guiness como o único filme em que alguém morreu literalmente de susto. Agora, com esta distância temporal toda, pode não parecer caso para tanto, mas o McBacon é mais do que justo e mantém-se actual.

Título: The Quatermass Xperiment
Realizador: Val Guest
Ano: 1955

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