| CRÍTICAS | Apolo 10 1/2 – Aventura na Era Espacial

Depois de Acordar Para a Vida e A Scanner Darkly – Homem Duplo, Richard Linklater regressou à animação, mais propriamente à rotoscopia, essa técnica que consiste em desenhar por cima da imagem real. E a primeira pergunta que se coloca é: porquê? É que enquanto que nesses dois filmes anteriores os desenhos-animados serviam respectivamente para ilustrar um mundo onírico e outro mais futurista de ficção-científica, neste caso estamos a falar de um filme de época sobre os anos 50 e 60 – mais propriamente entre 1955 e 1969, o período em que aconteceu aquilo a que ficou conhecido como corrida ao espaço, entre os Estados Unidos e a União Soviética, a ver quem conseguia pôr primeiro um homem a caminhar na lua.

No entanto, tendo em conta o carácter lúdico de Apollo 10 1/2 – Uma Aventura na Era Espacial, a animação não só acaba por se adequar, como também lhe conferir uma certa leveza e jovialidade que lhe fica bem. Apollo 10 1/2 é um feelgood movie que lembra aqueles do auge do género (os anos 80, década em que os grandes realizadores eram, precisamente, malta que havia crescido nesse período da corrida espacial) e que é um exercício de nostalgia, uma trip pela memory lane que vai ressoar de forma especial a quem cresceu no mesmo período.

Para os outros, Apollo 10 1/2 é um coming of age sobre um miúdo, Stan (voz de Milo Coy), o mais novo de sete irmãos, numa família de classe média a viver nos subúrbios de Houston, que é mesmo de dizer nos subúrbios da NASA. O presidente Kennedy tinha acabado de lançar o desafio de que os Estados Unidos iriam colocar um homem na lua em uma década e a corrida espacial estava ao rubro, tendo sido absorvida pela própria cultura popular. Por isso, não admira que Stan acabe por criar uma fantasia alternativa, onde ele é convocado pela própria NASA para ir à lua testar o protótipo da cápsula espacial, que alguém se enganou e construiu com umas dimensões mais pequenas, fazendo lembrar aquele episódio divertido do This is Spinal Tap, com um Stonehenge para anões.

No entanto, Apollo 10 1/2 tem pouco de filme espacial, apesar de alguns óptimos momentos de treino ou de preparação para o lançamento da Apollo 11. É antes uma história sobre a adolescência, sobre o crescimento e sobre como idealizamos esse períodos das nossas vidas, em que a única preocupação era não chover ou estar em casa antes da hora que os pais tinham dito, numa altura em que a noção de segurança parental era mais relaxada (e o filme faz questão de insistir, com graça, nesse ponto). E é também a oportunidade perfeita para Richard Linklater enumerar (empilhar?) referências sem fim, seja a filmes (e está lá o Estada do Inferno, por exemplo, em pertinente destaque), especialmente os série b, jogos de tabuleiro ou séries de televisão.

E, claro, é impossível ignorar o facto do narrador do filme ser Jack Black, ele que é filho de Judith Love Cohen, a mulher que criou o mecanismo que permitiu fazer regressar sãos e salvos os astronautas da Apollo 13 (sistema esse que terminou no próprio dia em que entrou em trabalho de parto). Um elo de ligação curioso, num filme feito de pequenas peças de um puzzle imenso, que é a adolescência de todos nós. Não será propriamente o McBacon mais inesquecível de Richard Linklater, mas é sem dúvidas um dos que se vê melhor.

Título: Apollo 10 1/2 – A Space Age Childhood
Realizador: Richard Linklater
Ano: 2022

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