| CRÍTICAS | Hustle – O Grande Salto

Imaginem que agora o Adam Sandler desatava só a fazer bons filmes. Quer dizer, se exceptuarmos Embriagado de Amor, que já tem 20 anos(!), foi só Diamante Bruto antes deste Hustle – O Grande Salto. Estamos é só a aproveitar o burburinho que este novo filme tem criado um pouco pela internet fora. Mas esperem lá, quer isso dizer que Hustle – O Grande Salto é um bom filme? Não nos precipitemos, se faz favor.

Hustle – O Grande Salto é antes mais um filme sério de Adam Sandler, longe das comédias patetas com que ganha a vida. Se bem que aqui é um pretexto para abordar outra das suas grandes paixões, o basquetebol, com direito até a uma cena em que faz questão de sublinhar o seu despeito pelo futebol. Em Hustle – O Grande Salto, Sandler é Stanley Sugerman, ex-jogador promissor obrigado a pendurar as botas precocemente por causa dum acidente e olheiro dos Philadelphia 76ers, que anda pelo mundo fora à procura do próximo Dirk Nowitzki, Paul Gasol ou Vlad Divac.

Isso significa que Sandler passa mais tempo em aviões e hotéis pelo mundo fora do que com a família (a mulher Queen Latifah e a filha Jordan Hill), o que o tornam melancólico e com aquela existencial angst muito própria, que de certa forma também tinha no seu outro filme sério, o de Paul Thomas Anderson. O seu sonho continua a ser tornar-se treinador, mas com 50 anos já ninguém tem sonhos, só pesadelos e eczema, diz ele às tantas. Entretanto há de morrer o dono da equipa, Robert Duvall, com quem Sandler tinha uma estreita relação de confiança, há de encontrar um diamante em bruto em Espanha chamado Bo Cruz (o verdadeiro jogador da NBA (Juancho Hernangomez), há de o trazer para os Estados Unidos e há de ser despedido, ficando com o bebé nos braços.

Depois de uma primeira parte em que Adam Sandler e o realizador, Jeremiah Zagar, tentam passar uma ideia de que o desporto profissional é sobretudo 80 por cento de transpiração e 20 por cento de inspiração (contrariando todos os que defendem que o Messi é melhor que o Ronaldo porque ele não se esforça e o português tem que treinar muito (imaginem então se Messi se esforçasse….)), a dupla parece que se esquece de que filme estava a fazer e abraça com os dois braços, bem apertadinhos, a enésima história desportiva do underdog. A estrutura não podia ser mais cliché: Bo Cruz vai falhar estrondosamente no treino de captação porque não aguenta a pressão e Sandler vai treina-lo em duas semanas, sozinho e de forma pouco ortodoxa (olá Rocky), na montage mais longa da história das montage de gente a treinar, até à redenção final.

É certo que Hustle – O Grande Salto parece mais real que muitos dos seus primos porque mergulha a sério no mundo do basquetebol norte-americano profissional (nos créditos finais até há um demorado who is who, para quem não acompanha a NBA, com imagens de arquivo e tudo, que enumera todos os cameos: de Seth Curry a Luka Donkic, até aos veteranos Shaquille O’Neal, Julius Dr. J Irving ou Allen Iverson. No entanto, não há grande diferença entre este filme e coisas com Um Sonho Possível. A diferença é que não estamos habituados a ver Sandler em papeis dramáticos. Hustle – O Grande Salto tem sido descrito como um filme sobre basquetebol para quem não gosta de basquetebol. Tendo em conta o Happy Meal, devia ser antes descrito como o filme para quem não gosta de cinema.

Título: Hustle
Realizador: Jeremiah Zagar
Ano: 2022

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