Era inevitável que, com o fenómeno de biopics de músicos que surgiram no último par de anos, não surgisse uma ou outra sátira ao género. Foi assim que nasceu Walk Hard – A História de Dewey Cox, um filme a gozar com os biopics e que merece a nossa atenção por dois aspectos: primeiro, porque traz o carimbo de Judd Apatow na produção e no argumento, nome cada vez mais incontornável na comédia actual; e segundo porque fala de rock’n’roll.
Como o título indica, Walk Hard é o biopic de Dewey Cox (John C. Reilly), uma estrela rock dos anos 60, cujas semelhanças com Johnny Cash não é mera coincidência, assim como também não o é as semelhanças entre o título do filme e o de Walk The Line. Aliás, a primeira metade de Walk Hard é uma paródia a Walk The Line que, se tivesse o Leslie Nielsen como protagonista, chamar-se-ia certamente Aonde-pára-qualquer-coisa. No entanto, o seu tipo de humor pouco tem a ver com o absurdo e o non-sense dos Aonde Pára A Polícia, sendo antes um humor que se ri de si próprio, enfatizando os clichés do género e pondo a nu o ridículo das situações. Como o humor das trivilidades dos filmes de Judd Apatow.
Walk Hard começa então com Dewey Cox de costas para a câmara, prestes a subir a palco para um concerto, onde ouvimos uma multidão em êxtase. Há hesitação nos seus gestos e, por isso, quando o vêm chamar, alguém diz que ele já vai depois de rever toda a sua vida. E eis o flashback para os anos 50, que depois se extendem até aos 60, os 70, os 80 e os 90, até chegar novamente à actualidade e encerrar o filme num círculo perfeito.
Olhamos para a vida de Dewey Cox e encontramos Johnny Cash, Ray Charles, Brian Wilson, Stevie Wonder e mais uma série de personalidades da história da música rock, pilhando descaradamente vários momentos das suas biografias e parodiando-os. É como uma versão para rir de Quase Famosos. A primeira hora centra-se, principalmente, na estrutura de Walk The Line, mas quando passamos os anos 60, o filme começa a parecer uma coisa nova e a ter verdadeiramente interesse. Principalmente, porque a primeira cena é logo uma viagem à Índia para encontrar o Maharishi, juntamente com uns Beatles incarnados pelos cameos de gente como Jack Black ou Jason Schwartzman, que é simplesmente brilhante. Ah, é verdade, também lá anda Jack White a fazer de Elvis Presley, que é tão natural que nem necessita de comentários.
Existem momentos divertidíssimos e outros que deveras aborrecidos, especialmente porque há fases da vida de Dewey Cox que teimam em ser demasiado longas. E, claro, não se furta aos momentos musicais, até porque parece que Apatow e o realizador Jake Kasdan se divertiram a escrever as letras. E Let’s Duet é um dos momentos altos. Falta-lhe só algo mais orelhudo, para que a banda-sonora fosse inesquecível. É que é isso que faz com que This Is Spinal Tap funcione tão bem. No balanço geral, Walk Hard merece, sem sombra para dúvidas, uma visionadela que seja e um Double Cheeseburger a acompanhar. Mas vejam até ao fim dos créditos, porque a cena que vem a seguir desconcerta qualquer um.
Título: Walk Hard
Realizador: Jake Kasdan
Ano: 2007