Tal como existem filmes que são feitos para um actor, existem outros que apenas existem por causa de um casal de actores. Não são muito comuns, mas um De Olhos Bem Fechados não seria a mesma sem Tom Cruise e Nicole Kidman e a única razão para ver Mr. e Mrs. Smith era para ver Brangelina no mesmo filme. Não é que Bilhete Para o Paraíso seja a mesma coisa. Afinal de contas, George Clooney e Julia Roberts nem são um casal na vida real, como já fizeram vários filmes juntos (esta obra que vos trazemos aqui é a sua sexta(!) colaboração), mas são a única razão pela qual alguém pode ir querer ver Bilhete Para o Paraíso ao cinema. É que Clooney e Roberts são dos últimos actores de Hollywood que representam um certo star system que se tem vindo a desvanecer, um certo fascínio inato que se sobrepõe às pessoas por trás dos actores.
Quanto a ambos, a única razão para aceitarem fazer uma comédia romântica como Bilhete Para o Paraíso foi a possibilidade de irem passar umas férias descansadas a Bali (se bem que a internet diz que o filme foi antes filmado na Austrália). Exactamente a mesma razão pela qual os actores aceitaram fazer os dois Mamma Mias, mas com a Grécia em vez dessa ilha indonésia. Aliás, o próprio realizador de Bilhete Para o Paraíso, Ol Parker, foi o de Mamma Mia – Here We Go Again! Chamem-lhe parvo. Agora imaginem que ele descobre aqui uma fórmula vencedora para a vida.
Quanto ao filme em si é a história do ex-casal George Clooney e Julia Roberts, que, apesar de divorciados há 20 anos, mantém uma relação de amor-ódio, que vão alimentando em nome da filha que têm juntos (Kaitlyn Dever). Quando esta, de férias em Bali, comunica que, não só vai ficar por lá e desistir da recém-carreira na advocacia, como ainda vai casar com um tip que acabou de conhecer, os dois decidem fazer uma trégua e unirem forças, viajar para Bali e tentar sabotar a relação sem a filha dar por isso.
Já sabemos onde o filme vai terminar, até porque ninguém está aqui para inventar a roda. Aliás, o factor de interesse de Bilhete Para o Paraíso não é a história em si, mas antes assistir às belas paisagens do filme em formato de postal de férias e acompanhar a relação passivo-agressiva entre Clooney e Roberts. E os dois fazem isso com uma perna às costas, parecendo genuinamente que se estão a divertir, enquanto se picam um ao outro, um diz mata e o outro diz esfola, naquela química muito screwball que é o melhor do filme.
Aliás, é mesmo a única coisa que salva o filme, porque tudo o resto é um apanhado de clichés. É certo que ninguém vai ver Bilhete Para o Paraíso para ser surpreendido, mas recorrer ao cliché da picada da cobra que obriga alguém a chupar o veneno ou uma inarrável cena com golfinhos em CGI demonstra uma preguiça difícil de compreender. Por isso, rapidamente Bilhete Para o Paraíso cai na redundância, terminamos o Happy Meal ainda a procissão vai no adro e ficamos mais de meio filme sem saber o que fazer.
Título: Ticket To Paradise
Realizador: Ol Parker
Ano: 2022