Vimos acontecer em ambas as partes do conflito na recente guerra na Ucrânia: assim que os dois países anunciaram o alistamento obrigatório para ir combater, assistiu-se a uma torrente de rapazes a escapar para lá das suas fronteiras. Afinal de contas, quem é que no seu perfeito juízo quer ir combater para uma guerra? Só mesmo os broncos da extrema-direita que romantizam aquilo que vêm nos filmes. Esses deviam ver A Oeste Nada de Novo, a adaptação alemã do clássico homónimo de Erich Maria Remarque, baseado nas suas memórias nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e que, em 1930, já dera origem a um dos primeiros filmes sobre os bastidores da guerra.
Quando A Oeste Nada de Novo abre – deixemos de fora o prólogo… -, o estado de alma dos cinco amigos que foram o herói colectivo deste filme é bem distinta da do resto do filme. Paul Bäumer (Feliz Kammerer) e os amigos – e passemos já directamente para o final: será Paul o único a sobreviver, até porque as memórias do filme são as dele – estão em pulgas para se juntarem à ofensiva a oeste, na fronteira francesa, e quando recebem a notícia do alistamento fazem uma festa. Aliás, Paul não foi aceite e, por isso, falsifica os papéis, porque não quer ficar para trás, num misto de vergonha, virilidade tóxica e orgulho em servir a pátria.
Sinal de outros tempos. Afinal de contas, em 1918 não havia internet e as notícias que chegavam aos jornais eram escassas. Por isso, assim que aterraram nas trincheiras, a disposição daquele jovens soldados altera-se radicalmente. A falta de condições, a violência, a crueldade, o perigo… È tudo demasiado e rapidamente há ataques de pânico, cabeças rebentadas e muitas lágrimas. Bem-vindos à guerra!
Mais do que um filme sobre a desumanização da guerra, A Oeste Nada de Novo é um filme sobre a barbárie da guerra. E, ainda para mais, sobre o mais destruidor e violento de todos os conflitos bélicos. Além de ter sido uma guerra que envolveu praticamente todo o mundo, a Primeira Guerra Mundial matou como nenhuma outra, dizimando gerações completas (a França que o diga). E tudo com requintes de crueldade e violência absurda. É impressionante como apenas 20 anos depois estava-se a repetir tudo outra vez.
É sabido que até os filmes anti-guerra têm dificuldade em resistir ao espectáculo da guerra e o realizador Edward Berger tenta resistir com todas as forças a isso. Não há cenas espectaculares ou virtuosismo técnico à 1917, se bem que o prólogo inicial é um longo plano-sequência que faz lembrar esse filme de Sam Mendes. Berger procura antes fixar-se num realismo seco, sem problema em ser gráfico quando tem que ser, que procura um efeito… imersivo, para usarmos essa palavra abominável que está tão na moda.
Não há propriamente uma história em A Oeste Nada de Novo a não ser relatar as agruras que se passavam naquelas trincheiras enlameadas, onde era matar ou ser morto, às mãos de oficias cegos pela glória nacionalista e pelo ódio ao próximo. Existem mesmo um par de cenas que são difíceis de se ver sem desviar o olhar um par de vezes. No entanto, ninguém estava à espera que, de quando em vez, surgisse um sub-enredo com o avanço das negociações de paz entre as entidades oficias da Alemanha e de França. Isso não está no filme de Lewis Milestone e, pelo que fui ver, também não está no livro original. Parece que Edward Berger sentiu necessidade de nos lembrar que, mesmo na guerra, também há pessoas boas. A verdade é que, mais do que desnecessário, essas cenas parecem pertencer a outro filme. O McChicken é, por isso, mais por defeito do que por outra coisa.
Título: Im Westen Nichts Neues
Realizador: Edward Berger
Ano: 2022