| CRÍTICAS | Metal Lords

Se não fosse o Rock and Roll, o que seria de mim?
Cantava Rui Veloso no Não há estrelas no céu, esse poeta que diz não gostar de hip-hop porque é misógino, mas que canta blues (lol). Em Metal Lords não é bem o rock’n’roll que salva a vida de Kevin (Jaeden Martel), Hunter (Adrian Greensmith) e Emily (Isis Hainsworth), mas antes o heavy metal. Mas hei, não é a mesma coisa?

Na verdade, Kevin nem sabia bem o que era metal. Hunter, com as t-shirts de bandas, colecção de discos impecável e uma flying-v a tiracolo, é que era o maluquinho do heavy metal. Kevin só queria passar tempo com o amigo e, por isso, começou a tocar bateria na banda do primeiro, os Skullfuckers (mais tarde rebaptizados de Skullflowers, porque a directora da escola achava inapropriado). Afinal de contas, quantos inadaptados é que não foram salvos da mesma forma pelo rock’n’roll? Emily há de se juntar mais tarde ao grupo para tocar violoncelo (ai, agora lembrei-me dos Corvos e dos Apocalíptica, dois flagelos do… metal), sem antes passarem por uma série de episódios tensos e de conflito, ela que também é uma outcast no microcosmos do liceu onde todo o filme se desenrola, devido à sua saúde mental de pouca confiança.

Metal Lords é assim um filme de liceu filtrado pela música mais pesada, com grande respeito por toda esta sub-cultura, desde a banda-sonora (Pantera, Iron Maiden, Ozzy Osborne, Metallica, Guns n’ Roses…) até aos cameos divertidos de Tom Morello, Kirk Hammett, Scott Ian e Rob Halford a fazerem de consciência boa e consciência má de Kevin – e aquela piada na mouche em que Isis Hainsworth, para aprender a tocar metal no contrabaixo, vai comprar um livro com as partituras do And Justice For… All (quem sabe sabe, que não sabe já não interessa de nada saber só agora). Não é a primeira vez que o rock serve como veículo para o coming of age, de Escola de Rock a Heavy Trip, só é pena não acontecer mais vezes.

De forma discreta, sem escatologia, gags brega e outros despropósitos, Metal Lords monta um teen movie de forma muito eficiente, que pode não deslumbrar, mas que prova como é possível fazer um filme com adolescentes sem os tratar com condescendência. Quer dizer, a personagem de Emily deixa um pouco a desejar na forma como aborda a sua saúde mental, mas o foco são os dois membros fundadores dos Skullfuckers, perdão, Skullflowers, autores desse clássico do metal que é Machinery of Torment, composta originalmente por Tom Morello para o filme. Tudo isto vale, à vontade, McChicken. Poderá muito bem haver quem defenda que vale algo mais.

Título: Metal Lords
Realizador: Peter Sollett
Ano: 2022

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *