| CRÍTICAS | Cabeças Ocas

Ao mesmo tempo que o mundo voltava a render-se ao rock de guitarras e o grunge aproveitava para criar um império capitalista e global (quem é que ainda não viu o Hype?), também Hollywood criava m sub-género de comédias rock com relativo sucesso. Beavis e Butt-head tinham o seu espaço na MTV, onde até cantavam com a Cher, Quanto Mais Idiota Melhor tinha o sucesso suficiente para fazer valer uma sequela e até os Cannibal Corpse apareciam em Ace Ventura – Detective Animal.

Complementariamente a estes casos mais populares houve muitos outros, mas com menos visibilidade e que hoje são menos lembrados. Como Cabeças Ocas, a comédia rock que juntou pela única vez no ecrã Brendan Fraser e um então relativamente desconhecido Adam Sandler. E que só não teve um cameo dos Cannibal Corpse porque Jim Carrey já se havia antecipado. Veio então Ron Zombie e os seus White Zombie.

Fraser, Sandler e também Steve Buscemi têm então uma banda de hard rock, acreditando piamente que se vão tornar grandes, famosos e bem sucedidos. É apenas uma questão de tempo até conseguirem ter alguma exposição pública. No entanto, quando começam a ter algum momento de clarividência em relação ao estado actual das suas vidas (basicamente é quando a namorada de Fraser o deixa por ele ser um zé-ninguém), os três amigos decidem tomar medidas drásticas. Vão então à estação de rádio local para os obrigar a passar a sua maquete, utilizando armas de brinquedo para os assustar.

Claro que a situação escala rapidamente e, em menos de nada, estamos metidos na versão stoner de Um Dia de Cão. Fraser, Sandler e Buscemi tomam a rádio como reféns e a polícia cerca o edifício. Mas também rapidamente a situação ganha contornos populistas, os jovens identificam-se com aquela insubordinação rebelde e o síndrome de Estocolmo começa a ganhar terreno. Tudo isto embrulhado numa comédia meio desmiolada, mas sobretudo desinspirada, que não tem propriamente nenhum momento memorável. Nem sequer a música deixa a sua marca, o que é estranho num filme em que o rock é peça central. Aliás, foi isso que sempre justificou o sucesso de Quanto Mais Idiota Melhor: o de convocar muita gente responsável para dar música ao filme. E, aqui, o único momento musical respeitável nem sequer é o dos White Zombie, é uma chamada telefónica do Beavis e do Butt-Head. Por isso, Cabeças Ocas resiste hoje apenas como curiosidade do seu catsing: Fraser, agora recuperado para a vida; Sandler, que estava então a começar a sua escalada no mundo da comédia; e Buscemi, que ainda ninguém sabe como é que o convenceram a entrar nisto. Três é a conta que Deus fez, portanto Happy Meal.

Título: Airheads
Realizador: Michael Lehmann
Ano: 1994

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