Assim que a Disney anunciou Halle Bailey para ser a Pequena Sereia na sua adaptação live action do file homónimo de 1989, a internet pegou fogo. Os racistas vieram todos à tona e foi vê-los indignados, porque toda a gente sabe que as sereias são todas arianas e ruivas. Foi um bom momento para fazer uma limpeza nos amigos do Facebook.

Completamente indiferente a esta choradeira, a Disney continua a sua saga em adaptar para imagem real todos os seus grandes clássicos. E mesmo que todos sejam uma borrada, que levem porrada da crítica e não tenham o sucesso esperado na bilheteira, a empresa do rato Mickey continua imparável nessa empreitada, fiel à estratégia de que se os filmes originais são uma fórmula vencedora, então repeti-la é duplicar o dinheiro em caixa. E provavelmente têm razão, porque senão não continuariam a insistir nela.

A Pequena Sereia é então a enésima versão desesperada do desenho-animado original, sem se perceber muito bem qual é o verdadeiro problema. Eu tenho uma teoria de que um dos principais motivos passa por aquela que sempre foi a imagem de marca da Disney: a antropormofização dos animais. É que sem os olhos grandes e algumas marcas humanas, os animais são só… animais que falam. E é por isso que o Alladin é provavelmente o melhor destes live action movies. Em A Pequena Sereia, o caranguejo Sebastian é uma personagem importante, não só para o comic relief, mas também para fazer avançar a intriga. E, aqui, é apenas… um caranguejo.

Mas não só. A Pequena Sereia é um filme inesperadamente escuro. Enquanto que o original é todo ele alegria, cor e festa, este novo é demasiado negro para ter o mesmo tom de celebração. Por isso, mesmo as sequências mais ambiciosas são sempre apenas uma recriação baça do original, feita sem alma e paixão. E se a escolha de Rob Marshall, homem habituado ao musical, parecia acertada para um dos filmes da Disney que tem uma das melhores bandas-sonoras, a verdade é que, mais uma vez, a sua realização é tão anónima que poderia muito bem ter sido feita por uma qualquer entidade de inteligência artificial.

A história mantém-se igual e praticamente inalterável, o que nos faz questionar como é que o filme tem quase uma hora a mais. Aliás, uma das melhores partes de A Pequena Sereia original até desaparece, que é a cena de Sebastian com o cozinheiro francês. As cantigas mantém-se mais ou menos inalteradas, há um rap novo que até não é mau e depois há Ursula, um dos melhores vilões de sempre da Disney. Enquanto que no desenho-animado a bruxa do mar era uma versão estilizada da Divine, aqui é Melissa McCarthy que ficou com o papel, deixando para trás Lizzo, que tentou desesperadamente ser a escolhida. E a verdade é que e provavelmente o melhor desta versão, ainda que o clímax final é chocho e igualmente balofo.

A Pequena Sereia é mais uma peça na linha de montagem da Disney, para ser consumido e deitado fora, descartável como a chiclete da canção. E nós continuamos a contribuir para que esta fábrica de Cheeseburguers não pare de laborar.

Titulo: The Little Mermaid
Realizador: Rob Marshall
Ano: 2023