| LISTAS | Os 10 Melhores Filmes de 2023 da Sara Galvão

Dois Mil e Vinte e Três. Quem diria que este seria o ano em que todas as horas que passei a ver o James Cameron descer aos escombros do Titanic durante a minha fase de obsessão com o DiCaprio viriam a dar jeito. O que é para dizer, nunca se sabe o que o que o futuro trará, meus caros, e, se calhar, daqui a 30 anos, a História do Cinema relembrará com carinho 2023 como o fim tardio da era dos super-heróis e o início de toda uma nova era gloriosa de biopics e filmes sobre animais sob o efeito de drogas, que culminará com o vencedor de Melhor Filme em 2051, The Brave Bark: Lassie’s Struggle Against Addiction (a tradução portuguesa será, provavelmente, qualquer coisa como Ão Ão Chuta Cavalo). 

Mas concentremo-nos no presente, presente esse que é o Pedro a enviar-me mensagens passivo-agressivas no Messenger de duas em duas horas para lhe “entregar a puta da lista, que estamos quase no fim-do-ano” e ele tem coisas melhores para fazer do que esperar por mim. Alegadamente. O que significa que não tive tempo de visionar obras cinematográficas que claramente iriam directo para o meu top 3, como Bad CGI Gator, Crackcoon e Velocidade Furiosa X. Acrescente-se o facto de que as voltas me foram trocadas porque o meu claro número 1, Dune 2 – Too Sandy Too Nuclear foi adiado para o ano que vem e o ter imensos vídeos de TikTok na minha inbox para ver. Então tomei a decisão de abraçar o futuro e deixar que a minha lista deste ano fosse escrita pelo Chat G Portugal. Porque sou uma mulher moderna etc. e o meu tempo é precioso. 

Portanto, como um modelo de inteligência artificial desprovido de experiências pessoais e nuances emocionais, aqui está o top 10 de filmes da Sara Galvão (espero que ponhas o til no a seu software anglo-americano da treta) [nota do editor: pus sim]:

10º Lugar
Polite Society, de Nida Manzoor

Uma espécie de Orgulho e Preconceito misturado com Jackie Chan e uns laivos de ficção científica, Polite Society é aquele filme de baixo orçamento que nos lembra com saudades quando os filmes não vinham de IP. Montes de estilo e humor pela realizadora e argumentista Nida Manzoor (bastante conhecida nas ilhas britânicas por causa de uma série chamada Lady Parts), é um miminho sem pretensões que está na minha lista porque quero que mais pessoas o vejam. Excelentes interpretações de Priya Kansara, que é Ria, uma adolescente paquistanesa que quer muito se tornar numa stuntwoman e defender a irmã do casamento com um ricaço cuja família é, como os jovens dizem, sus. 

9º Lugar
Wonka, de Paul King

Visto fresquinho há uns dias atrás no terror que são as salas de exibição conimbricenses, com duas crianças na fila da frente que insistiram em partilhar com o resto da sala as suas opiniões profundas sobre este último filme de Paul King (Paddington, Paddington 2, The Mighty Boosh), das quais distingo EIA COITADINHO! e MÃE QUERO IR À CASA DE BANHO, mesmo assim – mesmo assim, caríssimos – gostei muito deste musical espampanante com o Paul Atreides, a rainha Isabel II, computer says no e o Primeiro Ministro Britânico a fazer de Oompa Loompa (estranhamente não o Boris Johnson), entre muitos outros cameos apenas legíveis por quem nasceu nos finais do século XX. Porque, por vezes, não digo que não a um filme sem cinicismo, gore ou guaxinins. O que, considerando o resto da minha lista, pode-se ler como um equilíbrio delicado, quiçá demonstrando o ecletismo e profundidade do meu gosto cinematográfico refinado, etc etc etc. Ou a minha doença mental incipiente. Um dos dois. 

8º Lugar
Anatomia de uma Queda, de Justine Triet

Mulher mata marido. Ou talvez não. Durante duas horas e pouco somos expostos a uma relação cujos níveis de toxicidade fazem inveja aos subúrbios de Chernobyl, com uma viúva nada lacrimosa interpretada por Sandra Hüller, que faz basicamente o filme. Se acham que ainda não passaram tempo suficiente dentro de salas de julgamentos cinematográficas este ano, este filme de Justine Triet irá encher-vos as medidas. Lento, subtilmente revelando mais e mais camadas de complexidade, sem nunca nos deixar tomar um lado definitivo – e que arte é saber o que mostrar e não mostrar numa linguagem visual – Anatomia de uma Queda é um óptimo filme, péssimo para ver em família. A destacar a excelente interpretação do child actor Milo Machado Graner. 

7º Lugar
Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese

Camaradas: eu, caso não saibam, não sou um homem branco de meia-idade. Aliás, se há algo de que me orgulho, quando escrevo a minha lista anual para o Pedro, é, efectivamente, provar que não sou um homem branco de meia-idade e que consigo trazer, quiçá, alguma variedade para a mesa das listas de fim de ano de melhores filmes. Digamos que me vejo como o cheesecake japonês num mundo de arroz-doces. Não que haja nada de mal com arroz-doce. Mas pronto. Infelizmente, este ano trouxe-me uma crise de identidade cinéfila que se traduziu em algumas escolhas das quais me envergonho e esta é uma delas. Talvez porque tinha visto o Napoleão no dia anterior. Talvez porque há muito tempo que não via um filme tão bem editado. Mas Os Assassinos das Flores Lunares (imagino que seja esta a tradução, Pedro?) – que não é uma prequela das Navegantes da Lua – está aqui no meu top porque gostei bastante. Muito por causa da Lily Gladstone, que interpreta o papel desafiante de age appropriate mulher do DiCaprio. Sim, são três horas e meia. Sim, tem o Matt Damon do Lidl. Mas gostos não se discutem e o filme caiu-me bem, com canela por cima e uma raspinha de limão.

6º Lugar
Infinity Pool, de Brandon Cronenberg

Não há ano sem Skarskgard e este ano matei o vício com este filme do baby Cronenberg, com o qual entrei apenas na expectativa de ver o meu viking preferido em tronco nu. Qual não é a minha surpresa ao encontrar um filme excelente a acompanhar a nudez sueca. Com um início que me lembrou bastante do The Forgiven, que entrou no meu top de há uns anos atrás, eis senão que o filme cronenberga de uma maneira que eu, grande fã de ficção científica que sou, fico parvinha e até me esqueço de objectificar o Skarskgard. Tem gore. Tem um momento a la Under the Skin. Tem um ângulo os ricos são maus que sim, é um bocado 2022, mas vai para um lado inesperado. E tem o Alexander Skarskgard a mostrar que é muito mais do que um constante protagonista nos meus sonhos eróticos. 

5º Lugar
Beau Tem Medo, de Ari Aster

Se virem um único filme com o  Joaquin Phoenix este ano, vejam este. Da mente conturbada em busca de internamento do Ari Arister, Beau Tem Medo é o que acontece quando alguém resolve escrever um guião exclusivamente constituído por pensamentos intrusivos. Não, não é para todos os gostos. Recomendo uma pequena dose dos primeiros 20 minutos, para provar. Odiaram? Saiam já e vão lavar a cara com O Manjericorium ou seja lá o que anda a passar na Disney+. Não conseguem tirar os olhos do ecrã? Bem vindos à tribo. A partir daqui é só a piorar. Ah, acham que sabem onde o filme vai parar? My sweet summer children. Não recomendado ver depois de refeições pesadas. 

4º Lugar
Joyland, de Saim Sadiq

Tendo uma reputação a defender, está certo que o quarto lugar da minha lista esteja ocupado por um filme paquistanês que quase ninguém viu. Banido no país de origem, vencedor de prémios em Cannes no ano passado (estreado em sala só este ano), é vendido como o romance entre um filho mais novo de uma família conservadora e uma cantora trans, mas é tão muito mais do que isso. Aliás, ouso dizer que o romance é a parte menos interessante de todo o filme, que delicadamente explora o que significa viver dentro de uma sociedade com expectativas bastante rígidas do que uma pessoa deve ser. Com um final angustiante (inesperado e a razão porque foi banido), é o meu candidato a título mais irónico do ano. 

3º Lugar
Saltburn, de Emerald Fennell

Agora no pódio, tenho a confessar que a única razão porque fui ver este filme foi porque não resisto a filmes sobre pessoal de alta classe inglesa. Tenho por eles o mesmo fascínio que muitos têm pelos vídeos da Dr. Pimple Popper – uma mistura de nojo e atracção, um não conseguir deixar de olhar por muito mau que fique – aliás, quão pior fica, mais vidrados ficamos. E quem diria que esta seria a atitude certa para ir ver o novo filme da Camila Parker, aka Emerald Fennell, que há uns anos atrás já nos tinha traumatizado com Uma Miúda Com Potencial. (Enquanto realizava este filme, Fennell também fez uma cameo no filme da Barbie como Midge (a Barbie Grávida), o que me diz que se a conhecesse na vida real, íamos ser grandes amigas (responde-me às DMs, Emy!)). Mas voltando ao filme. Isto não é a versão britânica do Chama-me Pelo Teu Nome. Isto também não é O Talentoso Mr Ripley. Isto é oficialmente um dos piores filmes para ver em família, a não ser que os vossos pais vão constantemente em cruzeiros e tenham muita arte com ananases. Quando menos souberem sobre o filme, melhor. Tem o novo hearthrob da Gen Z, Jacob Elordi (e quão traumatizados ficaram as adolescentes na minha sala de exibição, só daqui a uns anos saberemos) e o genial Barry Keoghan, que dá o corpo (e a língua) a este papel. 

2º Kugar
(and the King said, what a) Fantastic Machine, de Axel Danielson & Maximilien Van Aertryck

O único documentário a entrar no meu top este ano (e que esteve até Julho – prenúncio –  no meu número 1) é esta coisinha indescritível produzida pelo Ruben Ostlung, que é a primeira longa metragem de Axel Danielson e Maximilien Van Aertyck (deles, também recomendo a curta Ten Meter Tower, que está no Youtube). Um documentário que examina a relação da Humanidade com a lente fotográfica/cinematográfica desde os primórdios até os dias de hoje – tudo com um humor muito escandinavo e arquivo que vai desde Vladimir Putin a andar a cavalo de tronco nu passando por entrevistas com Leni Riefenstahl, até como se faz a votação da Eurovisão e, claro está, todas as fake news e tiktoks da nossa contemporaneidade. Não sei bem como é que os comuns mortais podem ver isto, mas se o virem não percam a oportunidade. O único filme que me fez chorar este ano. 

1º Lugar
Oppenheimer, de Christopher Nolan

Aviso legal: eu não gostava de um filme do Nolan desde o Memento. E a única razão porque fui ver isto foi porque estava moralmente obrigada a fazer o Barbienheimer e achei que a ordem certa seria sofrer com o Nolan primeiro e depois aligeirar o ambiente com a Barbie (que, reparem, nem entrou no meu top). Qual é a minha surpresa quando, ao acabar de ver três horas de bomb goes boom, o meu único pensamento é: tenho de ver isto outra vez numa sala ainda maior com mais som. Será porque tenho uma obsessão pouco secreta com a Guerra Fria? Será porque compreendo perfeitamente as ambivalências morais de um homem que, apesar de toda a inteligência teórica, é completamente incapaz de perceber as implicações práticas das coisas? Ou apenas estou a chegar à idade de que não consigo resistir a um bom court drama (vide Anatomia de uma Queda acima)? Nunca saberemos. Entretanto, não consigo deixar de pensar nos olhos traumatizados do Cillian Murphy e no facto de que nunca mais podemos deixar o Nolan filmar uma cena de sexo na vida.  

Coisas que vi, gostei, mas não chegaram ao top 10

As Oito Montanhas. Missão Impossível – Ajuste de Contas. Barbie. Close. Toda a Beleza e a Carnificina. Air. O Urso do Pó Branco. Deixar o Mundo Para Trás. Todos Menos Tu. Dias Perfeitos. Scrapper. Holy Spider

Coisas que não vi a tempo, mas que se calhar iam entrar no top

Earth Mother. Priscilla. Pobres Criaturas. Sisu. Reality. Rotting in the Sun. A Zona de Interesse. American Fiction. Como Rebentar um Oleoduto. Terra de Deus

Coisas que me desiludiram

Dream Scenario. Passages. Subject. Vidas Passadas. O Assassino. Bottoms. Fala Comigo

Coisas que odiei

Maestro. Napoleão (petição para enviar o Ridley Scott e o Bradley Cooper em sabática para Marte)

Poutporri de outras coisas boas deste ano

O doc sobre o Beckham na Netflix. Os memes sobre o submarino. Orcas a atacarem iates. O regresso em peso às salas e ao event movie com o Barbienheimer. Os memes sobre o livro do Man formerly known as Prince Harry. As greves a pedir melhores condições de trabalho e termos de contrato na indústria cinematográfica. Girl Dinner & Girl Math. Os incessantes pensamentos sobre o Império Romano (quiçá um marketing ploy do Gladiator 2). Mojo Dojo Casa House. 

Enfim, que venha o próximo ano. E a segunda parte do Duna. Principalmente a segunda parte do Duna

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