| CRÍTICAS | Divertida-Mente 2

Eis a Pixar de regresso e, surpresa, com mais uma sequela. No entanto, de todas as que já fez, Divertida-Mente 2 parece ser a mais natural e a que menos parece (apenas) aproveitamento comercial. É que ao ser um filme sobre as emoções de uma miúda de 10 anos vistas a partir do interior da sua cabeça, fazia todo o sentido ver como isso evoluir ao fim de algum tempo. No fundo, o mesmo se passava com Toy Story. E todos sabemos como é que isso correu.

Divertida-Mente 2 é precisamente isso. Depois de uma daquelas entradas à Puxar, em que, com grande precisão e capacidade de síntese, fazem um apanhado de todo o contexto da história de que precisamos saber, Riley (voz de Kensington Tallman) atinge um dos marcos mais importantes do nosso crescimento: a puberdade. Certa noite, estão as emoções a dormir descansadamente, e dispara um alarme que nunca antes havia tocado. De súbito, chegam os homens das obras para aumentar a sala de controle e… novas emoções. Eis a Ansiedade (voz de Maya Hawke), o Embaraço (Paul Walter Hauser), a Inveja (voz de Ayo Edebiri) e a Ennui(quem? o quê?) (voz de Adèle Exarchopoulos).

Rapidamente, a Ansiedade toma conta dos controles (surpresa!) e prende as emoções antigas (a Alegria, que normalmente gere a situação, a Tristeza, a Raiva, o Medo e a Repulsa) para que não se metam no caminho. Estas não então empreender uma jornada pela mente de Riley até ao fundo do seu inconsciente, para onde foi atirado o seu verdadeiro eu, e salvar o dia.

Isto é o que se passa no interior da cabeça de Riley. Cá fora ela está a passar por uma série de mudanças, que são exacerbadas pela puberdade. Riley está num estágio de hóquei no gelo, esmagada pela pressão social em querer agradar às miúdas mais velhas, a ter dificuldade em aceitar que as suas bff vão mudar de escola e ainda tem que demonstrar serviço sobre os partis, caso queira provar que é mesmo boa a fazer aquilo que mais gosta. Ou seja, Divertida-Mente 2 não é outro coming of age, mas antes a continuação natural do anterior, fazendo desta a sequela perfeita.

Nem tudo é perfeito em Divertida-Mente 2. Por exemplo, as novas sequelas não fazem sequer sombra às originais. Apesar do potencial da Ennui e do Embaraço, estas são claramente sub-aproveitadas, enquanto que, esteticamente falando, a Ansiedade parece chegada de outro filme. Em compensação, surgem novos secundários que ganham o filme, da mesma forma que Bing Bang o fazia no anterior. Há então um cão em 2D, reminiscente da Dora, a Exploradora, que fala com o espectador e que tem um saco-banana falante que parece a mala do Sportbilly, e há uma personagem de jogo de vídeo japonês, muito Final Fantasy, atormentado e com um ataque especial altamente… ineficaz.

Contudo, onde Divertida-Mente 2 saca o McRoyal Deluxe é naquilo que a Pixar faz melhor: o controle emocional perfeito e equilibrado, sem forçar o tearjerker; os valores certos; e uma mensagem moral, com a família e os amigos como núcleo central, a explicar o óbvio com grande desembaraço. E, como sabemos, na maior parte das vezes é mesmo preciso fazer um desenho para entender o evidente.

Título: Inside Out 2
Realizador: Kelsey Mann
Ano: 2024

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