| CRÍTICAS | Na Noite do Crime

Não é que fosse a primeira vez que os manos Emilio Estevez e Charlie Sheen contracenassem juntos, mas Na Noite do Crime tinha a particularidade de ser escrito e realizado pelo primeiro. Ou seja, pelo menos parecia ser um projecto idealizado por Estevez para si e para o mano. Se bem que, na altura, dizia-se que o filme tinha sido planeado para os seus colegas do Brat Pack.

Na Noite do Crime é a história de dois slackers, surfistas durante o dia e homens do lixo à noite. Estevez e Sheen antecipavam aqui, em alguns anos, os stoners Beavis e Butthead e Quanto Mais Idiota Melhor, se bem que de forma menos assumida. Sem querer, os dois vão ver-se envolvidos numa mirabolante intriga ambiental, com o corpo (morto) de um candidato ao município local e um mafioso que anda a despejar lixo tóxico no mar e que precisa de recuperar uma cassete comprometedora.

Na Noite do Crime é assim uma amálgama de ideias desconexas e aleatórias, que Emilio Estevez parece ter socado de todos os lados até ter a aparência mínima de um filme. É que há pouca coisa que parece fazer sentido. Na sua forma mais básica, Na Noite do Crime é um buddy movie, que introduz ainda um terceiro elemento, tão a despropósito quanto desnecessário: o ex-veterano do Vietname, Keith David, que dá um lado musculado ao filme. Há um cadáver que espoleta um humor necrófago, como se Fim-de-semana com o Morto alguma vez fosse uma fonte de inspiração respeitável. Há uma jovem Leslie Hope para introduzir a parte romântica, mas com a subtileza de um pé-de-cabra. E há ainda mais um sidekick, Dean Cameron, um entregador de pizzas que nem sequer é nunca nomeado e para o qual ninguém tem um papel ou algo para fazer. De tal forma que, quando entramos no último acto, decide ficar simplesmente no carro, à espera(!).

Tudo isto e acompanhado de um tom meio niilista, tipo Looney Tunes, mas que nunca se percebe se é de propósito ou involuntário. Até Charlie Sheen parece estar um pouco desconfortável durante todo o filme. E o que dizer de um argumento que, em duas situações distintas, só avança porque um barril salta inadvertidamente do carro dos maus em andamento directamente para as mãos dos bons? Sim, isso acontece duas vezes. E depois vemos Emilio Estevez, no recente documentário de Andrew McCarthy, Brats, a choramingar que não percebe o que aconteceu à sua carreira. Se calhar, alguém lhe devia lembrar estes Happy Meals.

Título: Men at Work
Realizador: Emilio Estevez
Ano: 1990

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