| LISTAS | Os 10 Melhores Filmes de 2024 do Tio Xunga

Umas das coisas que as pessoas não sabem é que os filmes que estreiam nesta dimensão do multiverso estreiam em todas as outras dimensões. Só que o género muda. Além de outras pequenas diferenças.  Por exemplo, na realidade alternativa onde me encontro, o Natal celebra o nascimento de uma verruga chamada Gnorr e aparece a toda a gente milagrosamente na noite do dia 24, entalada entre o anus e o órgão genital de cada um. Devido a esta anomalia, as pessoas têm que passar o dia todo em pé, a celebrar a verruga mística que lhes infeta as entranhas por 48 horas. Nada a que não estejam habituadas, uma vez que se sentam diariamente em pinhas retais, e segundo as normas sociais quanto maior melhor.

Mesmo a tempo da celebração do Fetiche de Frango, na passagem do dia 31 de Dezembro para o dia 1 de Janeiro, onde as pessoas vestem roupas feitas de frango, sendo as únicas condições de que não podem ser frangos vivos nem frango cru. Também não se encoraja o demasiado queimado, porque as pessoas ficam muito escuras e acabam por ser espancadas até à morte pela polícia local, uns fachos híbridos com algum ADN de Doberman Pinscher e bastões feitos de pau de marmeleiro da Cabinda. Nesta dimensão todos os filmes são documentários, porque todas estas histórias acontecerem na realidade, normalmente até a um primo meu chamado Rodrigo. Às vezes mais do que uma vez, como o famoso documentário Commando ou o A Centopeia Humana, normalmente em viagens de finalistas a Torremolinos, que aqui fica na baixa de Setúbal, ao lado de um cabeleireiro para cães.

10º Lugar
Le Deuxième Acte (2024), de Quentin Dupieux

Este senhor, que devia ter pelo menos 34 Oscars mas não tem nenhum, é especializado nestas pepitas de menos de 70 minutos, imersas no surreal que tem a qualidade inigualável de nos fazer identificar com a trama, seja com a razão da vingança de um pneu assassino, amar uma mosca do tamanho de um São Bernardo ou obsessão violenta e libidinosa por um casaco maléfico, mas bem giro. Aqui, uma saída de 2 casais com intuitos de namorico e romance é constantemente importunada pela equipa de realização do filme que, de fora do enquadramento, garante que a trama segue certinha. Mesmo contra a vontade dos actores que se vêem amarrados aos seus personagens como escravos chineses a construir as linhas de caminho de ferro no seculo XIX. Este caso real aconteceu à companhia de teatro Seiva Trupe durante a peça “A Feijoada do Arquiteto Antunes”

9º Lugar
Caddo Lake (2024), de Logan George e Celine Held

São estas inesperadas e maravilhosas pérolas que se materializam ocasionalmente do vácuo artistico que são as pLAntAFormAS. Esta história não linear cheia de coração irá aquecer o coração de muita gente, depois do imbróglio de confusão se desfizer ao chegar ao fim do filme. Este caso real acontece todos os dias, entre as 17 e as 23h, na barragem da Agueira.

8º Lugar
Terrifier 3 (2024), de Damien Leone

A cada 50 anos aparece um Leone que pega em elementos abundantes e óbvios e cria algo novo, um frankenstein do ecoponto do cinema, e o distribui como frescura e brisa matinal. Neste caso o palhaço assassino, esse velho clássico, regressa na sua forma mais violentona de sempre. É só uma sequência de mortes imaginativas e ultraviolentas colada com narrativa de cuspe? Sim. E depois? Não é isso que se pretende. Este caso real acontece anualmente na festa de natal da Inatel. Normalmente a malta já conta com 10% de putos assassinados à machadada no orçamento, para ajudar na logística de exéquias funebres.

7º Lugar
Homem Macaco (2024), de Dev Patel

O clássico renascido, após 3 dias sem estrear nenhum filme do género, do gajo que se farta de tudo, treina (ou regressa ao treino que teve em tempos) e desata a distribuir balázio que cobre o chão do terceiro acto inteiro. Neste caso na Índia, com todas as suas dualidades morais e dicotomias sociais daquela sociedade tão bonita e colorida como injusta e, convenhamos, desagradável ao olfacto. Este caso real aconteceu em Lisboa, no Martim Moniz, mas depois apareceu a polícia e afinal era só uma peça de teatro. Mas já que estavam lá com bastões e cães, seria um desperdício de gasóleo se não distribuíssem paulada no lombo como vendedor de túnicas floridas no Festival Andanças. 

6º Lugar
Amor em Sangue (2024), de Rose Glass

“Ah, é com a Kristen Stewart, que horror.” Não é nada, é óptimo. Curiosamente, os protagonistas da mais odiada saga de sempre acabaram por conseguir uma carreira muito apreciada por mim e pelos meus, que foge ao óbvio e abraça os projectos menos comuns, aqueles que o mundo precisa, porque de comédias românticas e acção de template já estamos fartos. A história de um casal de miúdas com objectivos diferentes que acaba de modo conturbado devido à sua visão diferente de objectivos de vida (ou de abuso de substâncias). Escala para um maravilhoso ambiente surrealista e visualmente estimulante que me deixou um agrado no palato. Há Ed Harris também em forma e Katy O’Brian é alguém a ter debaixo de olho. Este caso real aconteceu-me a mim, quando era uma lésbica musculada abusadora de drogas com um sonho de glória no desporto e depois passei-me e acabei por arrancar acidentalmente a cabeça a um tesoureiro da secção de Guimarães do Chega. 

5º Lugar
Anora (2024), de Sean Baker

Entrei pela sala adentro sem saber o que ia ver. Cheio de preconceito contra um realizador que desconhecia e acabei por me tornar fã. Já vi, desde então, quase tudo que este senhor realizou e encontro-me desde já como Fã de Sean Baker Renascido. Ora, Anora é uma stripper/senhora da noite que ganha a vida bamboleando as carnes para malta com pouco apego ao dinheiro. Conhece um filho de um bilionário russo e casa-se. Conto de fadas, história Disn… Oh não, os pais dela não sabiam e estão furiosos. Cabe a Anora conseguir sobreviver ao dia neste cataclísmico filme, que mistura sabiamente o humor splapstick com os mais profundos e identificáveis sentimentos da raça humana. Outro documentário aqui, que aconteceu à antiga presidente da Tailândia. Era conhecida como “O Canhão de Ping Pong”.

4º Lugar
Histórias de Bondade (2024), de Yorgos Lanthimos

Em boa hora Iogurte Longinus foi laureado pelo sua obra mais mainstream, Pobres Criaturas, para abandonar a sua fantasia Tim Burton e regressar aos temas que queremos ver filmados por ele, injectar surrealismo ao tédio do dia-a-dia e transformar histórias comuns em narrativas extraordinárias, explorando temas quotidianos com um toque de absurdismo criativo. Também aconteceu isto a várias pessoas ao mesmo tempo, depois de uma tempestade de plasma em Porto Santo.

3º Lugar
Furiosa: Uma Saga Mad Max (2024), de George Miller

À medida que o seu mundo desmoronava, Furiosa dançou o Fandango de Darwin durante 15 anos, passando de um lugar de muitas mães e abundância para os abismos da decadência humana, um lugar onde o inferno parece um destino de férias apelativo. Miller encarnou o seu Leone interior e trouxe-nos Era Uma Vez na Austrália e, em vez de uma harmónica, temos um caroço de pêssego como ícone de memória, um símbolo de enraizamento que alimenta a vingança num festim de carnificina em energia descontrolada, com cheiro a gasolina e ferrugem. É melhor do que Estrada da Fúria? Não, nada é. Este é um monstro à parte, com todos os elementos de uma epopeia, detalhado, montado como um relógio suíço e completo no seu ciclo de vida. Saudemos Miller e a sua igreja do absurdo, a religião da pura sobrevivência, a dessensibilização final da humanidade, quase como na vida real.

2º Lugar
A Substância (2024), de Coralie Fargeat

Filmes perfeitos que nos fazem acreditar novamente na criatividade e na idoneidade do cinema? Nem sempre aparecem, mas este ano apareceu este. Um monstro de coragem e capacidade de manter uma visão apesar das pressões comerciais e sociais. A Substância é uma imagens dos tempos modernos, apesar de óbvio, mas a coragem com que o faz é que é o seu elemento diferenciador. Assim como a coragem de Demi Moore de abdicar do ego em prol da arte e do agitar de consciências. Outro documentário daqui, é um biopic de Demi Moore. Bruce Willis é trans nesta dimensão, mas gosta de mulheres na mesma. Só tem mais cabelo e ainda consegue mijar sozinho.

1º Lugar
Daaaaaalí! (2024), de Quentin Dupieux

Lá está! Num loop eterno, Dupieux é uma projeção ligeiramente distorcida da nossa sociedade. Haverá uma linha filosófica, dominante a partir do Sec XXV, que explora a história da Humanidade analisada pela filmografia deste homem. Se começarem a ver o filme do pneu no momento da descoberta da escrita e acelerarem o tempo 234293090239x, os filmes dele mimicarão com exacta precisão as conquistas da Humanidade. Neste caso Daaaaaalí!, um filme ao estilo do próprio que, apesar da distorção absurdista, mantém o foco com uma tenacidade impressionante, como aqueles tipos que bebem dois garrafões de vinho e chegam a casa de carro direitinhos, depois de serem apanhados pela polícia e ninguém ter reparada na carraspana.

Agradeço mais uma vez o convite do anfitrião deste espaço que eu gosto muito e por ele nutro um carinho especial. Excepto quando pega nos meus textos e altera os titulos originais que tanto prezo para os titulos, blergh, portugueses. Malta, não fui eu que cometi este genocidio, foi ele. Acham que escreveria Amor em Sangue em vez de Love Lies Bleeding? Ou Histórias de Bondade ou Homem Macaco? Aliás, aqui entre nós, este gajo ainda usa um nokia 3310, só usa internet num computador amarelado com ecrã CRT que tem na sala de jantar e não tem conta de letterboxd. Isto são tantas redflags que envergonhariam a claque do Benfica em dia de derby.

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