Pouca gente sabe, mas existe na Disney um Gabinete de Más Decisões. Começou quase como uma piada, uma aposta que escalou até ficar fora de controlo. Tudo aconteceu num jantar da empresa em que os executivos, já com os copos, decidiram ver o quão poderosa era o império da empresa e quantas más decisões resistiria. Nascia assim esse comité e, de forma oficiosa, foi ficando cada vez maior.
A maioria vai dizer que esta história é falsa, mas eu garanto que é verdadeira. Disse-me um primo, que o mecânico do tio da namorada conhece alguém que lhe contou. Aliás, só isso permite explicar que a Disney, perante o desinteresse geral que continua a haver perante os seus remakes em imagem real dos seus clássicos e o enfartamento cada vez maior do público por sequelas, prequelas e afins, tenha decidido que o grande filme de Natal de 2024 seria… Mufasa – O Rei Leão, uma prequela-spin off em imagem real de O Rei Leão.
Como o título indica, o filme conta a origem de Mufasa (Aaron Pierre), o honrado pai de Simba, em como é que ele conheceu a sua esposa, construiu o seu reino e conquistou o respeito dos restantes animais. Mas também a origem do seu irmão malvado, Scar (voz de Kelvin Harrison Jr.), um dos mais terríveis vilões da Disney. Tudo isso no ano em que morreu James Earl Jones, a voz original de Mufasa, o que dá uma homenagem bonita.
Apesar de ser um spin-off sobre outra personagem, Mufasa – O Rei Leão não dispensa a participação de Simba (voz de Donald Glover), nem de Timon (voz de Billy Eichner) e Pumbaa (voz de Seth Rogen), os mais populares da série. Mufasa – O Rei Leão funciona assim em regime de fkashback, com o sábio macaco Rafiki (voz de John Kani) a contar a história de Mufasa à filha de Simba. Timon e Pumba, com um humor muito meta de quem andou a ver demasiado Deadpool, aproveitam o curto tempo de cena que têm para o comic relief habitual e até para ensaiar timidamente uns acordes do Hakuna Matata.
Tal como O Rei Leão, Mufasa – O Rei Leão tem todos os condimentos de uma tragédia shakespereana, mas ainda mais ampliada. Aliás, a viagem do herói de Mufasa acontece não uma, mas duas vezes. Primeiro, ainda enquanto jovem, quando uma enxurrada o leva para longe dos pais e o obriga a começar uma vida nova junto de uma nova alcateia. E segundo quanto tem que fugir, com o seu irmão adoptivo, e procurar as terras encantadas e prometidas de Milele. Depois há ciúme, traição em família e uma matilha de leões brancos malvados, liderados por Kiros (voz de Mads Mikkelsen), que vai deixar marca. Literalmente.
Não existe propriamente nada de errado em Mufasa – O Rei Leão, cujos efeitos digitais até dão 15 a zero a O Rei Leão anterior, onde a imagem real ainda era demasiado sintética e falsa. Aqui, os leões são mais expressivos e… reais(!), se bem que temos que manter a concentração para irmos percebendo quem é quem, já que nem sempre os conseguimos distinguir. No entanto, nunca sentimos a verdadeira magia da Disney, como se o caderno de encargos fosse sempre demasiado grande para dar liberdade ou margem de manobra suficiente ao realizador Barry Jenkins.
Mufasa – O Rei Leão, com o seu McChicken, é bem capaz de ser o melhor dos filmes em imagem real a partir dos clássicos da Disney. E também me faz reforçar uma dúvida que me apoquenta já há bastante tempo: afinal de contas, o que é que tem Lin-Manuel Miranda de tão especial? Esta é mais uma banda-sonora mais ou menos genérica, sem nenhum tema que se destaque por aí além. Talvez Bye Bye seja a que esteja mais perto disso.
Título: Mufasa – The Lion King
Realizador: Barry Jenkins
Ano: 2024