A maldição de O Exorcista é uma das mais conhecidas em toda a história do cinema. É certo que existem muitas lendas urbanas à volta do maior filme de terror de sempre (a citação é minha), mas os desmaios constantes no plateau, pessoas a sentirem-se mal, um fogo misterioso e até um assassinato ajudaram a construir esse mito. Depois, esotérico o habitual quem conta um conto, acrescenta um ponto.
Por isso, a premissa de O Exorcismo é logo à partida uma ideia vencedora. Ou seja, imaginar um remake desse filme (se bem que nunca é directamente nomeado), em que a maldição regressa para atormentar o actor que vai fazer de padre. Aliado a isto, havia ainda o facto do realizador, Joshua John Miller, ser o filho do actor que fez de padre em O Exorcista. Não que isso queira dizer muito em termos práticos, mas basta ver como essa herança simbólica teve bons resultados no recente Longlegs – O Coleccionador de Almas.
Russell Crowe é então o actor que é escolhido para protagonizar esse remake, que se chama apenas The Georgetown Project (os conhecedores vão identificar a referência – O Exorcista era baseado em eventos reais passados na cidade de Georgetown), depois do actor inicial ter aparecido com o pescoço partido – suicídio claro, exclamam todos(?). Crowe acaba de sair de vários anos de adição e excessos, por isso esta é a oportunidade ideal para os eu comeback. Ou não.
Parecia ser impossível O Exorcista falhar: a relação meta entre este filme e o outro que todos conhecemos, um actor com esqueletos no armário que o tornam susceptível a possessões e uma ténue fronteira entre o terror psicológico e o filme de possessão. Contudo, tudo parece correr mal em O Exorcismo e não percebemos sequer o quê. Mas o filme esteve na prateleira quase 4 anos, sem ninguém saber muito bem o que fazer com ele. E a verdade é que mais valia ter permanecido nesse armário escuro, até todos se terem esquecido dele.
Russell Crowe começa então a apresentar um comportamento estranho e ninguém sabe bem porquê. Será a pressão do regresso? Serão os medicamentos para combater a abstinência? Ou será que ele voltou a consumir? O Exorcismo deveria ser um thriller psicológico mais do que um filme de demónios e fantasmas, cujo build up serviria para instalar a dúvida no espectador até ao climax, mas é tudo tão parco de sentido que em menos de nada deixamos de querer saber. A cereja no topo do bolo é a cena em que Russell Crowe começa a ter espasmos, contorce-se de forma humanamente impossível (a não ser que sejam um acrobata do circo) e começa a bater repetidamente com a cabeça na mesa em frente de toda a gente. Na cena seguinte está em casa a beber café, sem uma única marca, a conversar calmamente com a filha como se tivesse tido apenas uma ressaca má e à noite vai trabalhar.
Depois, quando chega ao acto final, Joshua John Miller entra em desespero total e, para não correr o risco de desperdiçar o efeito-estreia de Crowe, arranja um subterfúgio qualquer para ele passar a possessão para um padre que anda pelo filme de forma anónima e tornar-se no herói do seu próprio filme. Essa última parte é o filme de possessão 1.0, com todos os clichés do género, e serve apenas para arrumar o Pão com Chouriço, caso alguém ainda estivesse com algum tipo de dúvida.
Título: The Exorcism
Realizador: Joshua John Miller
Ano: 2024