| CRÍTICAS | Ballerina

Quem diria que aquele aparentemente inofensivo vengeance film em que Keanu Reeves se vingava de uns bandidos que lhe matavam o cão se iria tornar num universo cinematográfico próprio, de quatro episódios, construindo um copo de obra absolutamente impecável? Quer dizer, o quarto episódio de John Wick soçobrava um bocadinho sobre o seu próprio peso, mas eram apenas as dores de crescimento, creio eu. Por isso, agora é altura do filme começar a ganhar descendência, com um spin-off: Ballerina.

Ballerina vai buscar uma personagem que aprecia de fugida no terceiro filme, interpretada por Ana de Armas, e encaixa-se ali entre esse tomo e o quarto, se bem que isso interessa pouco para a história de John Wick. Aliás, Keanu Reeves parece aparecer aqui apenas para capitalizar o crédito acumulado, se bem que com o street cred que a série tem isso parece um pouco desnecessário. Mas ei, mal ao mundo nenhum vem daí.

Somos então introduzidos a Ana de Armas quando ela é ainda uma criança, no momento em que o seu pai é assassinado pelos capangas de Gabriel Byrne. Ian McShane entra em cena e leva-a para uma guilda de assassinas a soldo pela noite, bailarinas pela manhã, as Ruska Roma – nem Dario Argento faria melhor. A partir daí, já todos vimos Nikita – Dura de Matar para saber o que vai acontecer. Ana de Armas vai ser treinada para ser uma máquina de matar implacável e, quando descobre um assassino com a mesma tatuagem dos assassinos do seu pai, decide atirar a guilda às urtigas e ir em busca de vingança.

Não há propriamente nada de novo em Ballerina, mas a verdade é que também não era pela originalidade que John Wick se destacava. É certo que depois constrói um universo próprio, de assassinos a soldo e folclore eslavo, mas é na violência altamente estilizada que o filme sobressaía. Afinal de contas, o realizador Chad Stahelski era um duplo com longa experiência em Hollywood, que sabia bem o que o público gosta de ver num filme de acção. Contudo, Ballerina começa muito mal nesse departamento, com coreografias editadas de forma epiléptica e altamente banais, toda a antítese do que é a essência de John Wick. Talvez a ideia de ter ido buscar um tipo que não filmava há uma dúzia de anos, Len Wiseman, não tenha sido a mais brilhante por parte dos produtores.

Depois Ballerina vai melhorando. As sequências de acção vão ficando mais imaginativas e mais divertidas, à medida que Ana de Armas se vai embrenhando mais na perseguição a Byrne. Até que vai parar a uma vila pitoresca no coração dos Alpes, para onde os assassinos a soldo vão viver depois de se reformarem, e que vai fazer com que seja Ana de Armas contra literalmente todos os habitantes locais excepto as crianças. Há uma bela sequência de acção com granadas e um acto final com lança-chamas que entram directamente para o cânone da série, o bodycount é tão elevado que perdemos a conta e entramos de cabeça num arraial de sopapo sem fim.

Ana de Armas é uma óptima sucessora de Keanu Reeves no universo John Wick – e ainda trocam uns pontapés como é obrigatório em qualquer crossover – e, mesmo sem ser uma sequela ao mesmo nível dos quatro filme anteriores, Ballerina vê-se sem fastio. Entretenimento para ver com o cérebro desligado, Cheeseburger no colo e o frigorífico cheio de cerveja.

Título: Ballerina
Realizador: Len Wiseman
Ano: 2025

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *