| CRÍTICAS | Os Oito Odiados

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Existe um antes e um depois na filmografia de Quentin Tarantino e chama-se Sally Menke. Desde Kill Bill que o mestre norte-americano tem tido cada vez mais tendência para estender os seus trabalhos e a sua fiel editora sempre foi um travão fundamental. Basta ver, no documentário , a parte em que ela explica como cortou o date entre Uma Thurman e John Travolta, em Pulp Fiction, evitando que ficasse demasiado longo. Menke faleceu após Sacanas Sem Lei e a sua falta já se sentiu em Django Libertado que, coincidência ou não, é o pior filme de Tarantino. Por isso, quando vi que este Os Oito Odiados tinha três horas de duração, temi o pior.

Além disso, Os Oito Odiados é o mais incaracterístico dos filmes de Tarantino. Ele, que se notabilizou na arte do corta e cola, reciclando cinema xunga e alternativo em novos clássicos, tem aqui o seu primeiro trabalho em que não há referências nem piscadelas de olho mais ou menos directas a outros títulos. Em Os Oito Odiados, Tarantino limita-se a roubar a… ele próprio. Vai buscar a estruturas em capítulos de Kill Bill, a linearidade narrativa de Pulp Fiction e, sobretudo, a premissa do grupo de homens encafuados num espaço de Cães Danados.

São então oito homens, oito cáubois de dedo leve no gatilho e mau feitio, que se encontram, por motivos diferentes, encurralados na retrosaria da Mannie devido a uma tempestade de neve. Ressentimentos antigos transformam aquelas quatro paredes numa panela de pressão (especialmente raciais, como em Django Libertado, mas não só), que sabemos que só pode terminar de uma forma: em algo muito sangrento, com o gore estilizado e característico de Tarantino.

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Já o vimos fazer isto em Cães Danados e o realizador acrescentou Veio do Outro Mundo como influência. Nestes casos somos obrigados a lembrar também de 12 Homens em Fúria, supra-sumo dos filmes com homens fechados em sala. Os Oito Odiados é, portanto, um filme de actores – o habitual Samuel L. Jackson, o repescado Kurt Russell, o genial Bruce Dern ou Tim Roth a emular o Cristopher Waltz de Sacanas Sem Lei -, mas é também um filme de diálogos. E sabemos que os diálogos de Tarantino são os melhores. E é, acima de tudo, o filme de uma mulher: Jennifer Jason Leigh ganha o filme, apesar de ser uma história altamente machista. Sempre coberta de sangue – podia ser uma personagem dum giallo de Dario Argento -, Jason Leigh é sovada até à exaustão e ainda tem forças para cantar e tocar à viola o Jim Jones. Ovação de pé!

Por falar em música, Os Oito Odiados é o primeiro filme de Tarantino com banda-sonora original (apesar e terminar com Roy Orbison e haver lá para o meio os White Stripes). E Ennio Morricone é o único elo de ligação entre Os Oito Odiados e o western clássico ou o western spaghetti, porque tudo o resto é o western tarantinesco que iniciou em Django Libertado, encenado aqui como um teatro de câmara sangrento. E ei, as três horas de duração não são demasiadas. É o regresso de Quentin Tarantino à excelência do Royale With Cheese.royale-with-cheeseTítulo: The Hateful Eight
Realizador: Quentin Tarantino
Ano: 2015

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