Um filme em que temos o Harry Potter a fazer de cadáver multiusos e o Paul Dano vestido de mulher, com piadas de peidos e exaltação da necrofilia como modo de vida (não, a sério), soava a filme tão-mau-que-dá-a-volta que seria pecado capital não lhe dar uma vista de olhos. Mas a maior piada de Swiss Army Man é que é um senhor filme com grandes ideias, bem realizado, e com Dano e Radcliffe como grandes candidatos ao casal com mais química no ecrã 2016.
Escrito e realizado pelos Daniels (aka Dan Kwan & Daniel Scheinert – vocês devem conhecê-los pelo menos pelo famoso videoclip Turn Down for What) – e a primeira longa metragem do duo (como se já não fosse impressionante o suficiente terem arranjado orçamento para uma ideia tão estapafúrdia), Swiss Army Man é um daqueles casos em que ou se ama ou odeia – e se começarem a ficar transtornados pelos primeiros 10 minutos do filme (que terminam com Dano a utilizar o cadáver de Radcliffe como jet ski), ficam avisados: as coisas só vão ficar ainda mais surreais daqui para a frente. Se, tal como eu, não conseguirem desviar os olhos do que raio se passa no ecrã, bem-vindos a uma montanha-russa de emoções que talvez vos faça chorar, questionar como raio é possível fazer um filme tão original depois de mais de 120 anos de história do cinema e, possivelmente, olhar para cadáveres de uma maneira completamente diferente (esperemos que esta última não vos ponha em sarilhos com as autoridades).
Questionando os Grandes Temas da Existência – Amor, Amizade, Vida, Felicidade e Peidos – Swiss Army Man ganhou o prémio de melhor realização em Sundance deste ano e tem conseguido excelentes críticas nos sítios que importam. Esta fábula de humor negro e sobrevivência que nos ensina o que realmente significa estar vivo através de números musicais e travestismo (e genitais que funcionam como bússolas) é uma lição inesperada de existencialismo e amor-próprio. Porquê seguir o que a sociedade quer sem nunca questionar? E, no fundo, o filme aplica a sua própria lição moral a si mesmo – questiona todos os tropes cinematográficos, e (perdão) peida na cara das expectativas. Paul Dano prova (mais uma vez) que é um Actor com A grande no seu retrato do depressivo Hank, e Daniel Radcliffe (Manny) consegue finalmente ter piada no grande ecrã.
Swiss Army Man pode ser visto como uma metáfora, fantasia pura ou um delírio da cabeça de Hank/Dano, mas o que é decerto, é um delicioso Le Big Mac.Título : Swiss Army Man
Realizador: Dan Kwan e Daniel Scheinert
Ano: 2016