Quando era puto se havia coisa que eu curtia mesmo eram os GI Joes. Tinha dezenas de bonecos desses e só não tinha mais porque não mos compravam. Havia qualquer coisa naqueles action figures articulados que só encontrava rival no Spectrum (isto foi muito antes de aparecerem as consolas da Sega e da Nintendo), mas com a vantagem de não ter de estar à espera vinte minutos sempre que queria brincar. Por isso, quando estreou GI Joe – O Ataque Dos Cobra soltei um riso miudinho, que fiz questão de esconder de todas as pessoas que pensam que eu sou uma pessoa de bem, com gostos eruditos e interesses intelectuais.
Vi GI Joe – O Ataque Dos Cobra e, mesmo não reconhecendo nenhuma personagem (eu não via os desenhos-animados, confesso), senti-me como se tivesse novamente 5 anos e estivesse a brincar com os GI Joes. É que vale tudo no filme, fazendo lembrar as discussões de quando éramos gaiatos: O meu boneco é mais forte que o teu, derrotei-te. Não não, o meu é que é mais forte, porque salta mais alto. Salta mais alto porquê? Hmm.. porque tem um fato especial que o faz saltar mais alto.. Sim, em GI Joe – O Ataque Dos Cobra existem fatos aceladores que fazem os heróis correrem mais depressa, saltarem mais alto e baterem com mais força que os seus inimigos, esticando os gadgets do James Bond ao limite do irrealismo. Mesmo que o realizador, Stephen Sommers, diga que toda a tecnologia do filme possa estar inventada em 20 anos, não acredite.
Stephen Sommers está completamente descontrolado em GI Joe – O Ataque Dos Cobra, filme de acção em que vale tudo. É como Armageddon, que até valia fazer fogo no espaço, desde que isso possibilitasse mais uma explosão e uma cena emocionante, mas ainda mais exagerado. Tão exagerado que GI Joe – O Ataque Dos Cobra aproxima-se perigosamente do camp, como aquele flagelo que foi Batman & Robin.
Ora bem, para quem não sabe, os G.I. Joe são uma força militar internacional e secreta que junta os melhores operacionais de todas as forças especiais do Mundo. Curiosamente, olhamos para o filme e, exceptuando um marroquino (Saïd Taghmaoui), são todos norte-americanos (ah, há uma inglesa, que é a ideia mais próxima de multiculturalidade dos americanos), loiros, olhos azuis e queixo quadrado (e claro que existe o preto brutamontes e o preto que debita one-liners para o comic relief), ou não fossem os Estados Unidos e polícia do Mundo. Mais curioso ainda é, no final, os heróis principais e os vilões serem todos da mesma família e ex-namorados, provando que, até para estas agências internacionais, o mundo é apenas uma aldeia grande.
O pseudo-argumento, que mais não é do que um ligeiro motivo para ir avançando o filme de sequência de acção em sequência de acção cada vez mais grandiosa, engloba um negociante de armas descendente de O Homem Da Máscara De Ferro (juro!) e nanotecnologia verde, que desde o remake de O Dia Em Que A Terra Parou tem sido o sonho molhado de tudo o que é realizador insano de filmes de acção. E por falar em realizadores insanos de filmes de acção, quem diria que Michael Bay iria encontrar em Sommers um rival de peso no campeonato mundial dos blockbusters pueris e superficiais.
Mas há algo que me faz confusão em GI Joe – O Ataque Dos Cobra e que tem a ver com o elenco. Olhamos para os nomes envolvidos e percebemos que Dennis Quaid tenha aceite o papel para fazer o gosto ao filho, percebemos que Sienna Miller tenha aceite o papel para ter, finalmente, uma oportunidade de não fazer de puta drogada, percebemos que Channing Tatum tenha aceite o filme para bambolear novamente os músculos, mas…. não percebemos o que faz Joseph Gordon-Levitt num filme como este, por mais que tentemos. Mas em compensação há um cameo de Brendan Fraser, esse mesmo, o tipo de A Múmia que já ninguém se lembra e sobre o qual se há de escrever artigos pós-modernistas no futuro.
Mas pronto, diverti-me à brava a ver o filme e aposto que ainda vou gostar mais da sequela, que parece que vai mudar tudo outra vez, elenco e realizador incluído. Enfim, se brincou com GI Joes quando era mais novo, GI Joe – O Ataque Dos Cobra pode ser um Cheeseburger para recordar os bons velhos tempos. Se não, algo mais do que o Happy Meal é insulto ao cérebro.Título: GI Joe – The Rise Of Cobra
Realizador: Stephen Sommers
Ano: 2009