| CRÍTICAS | Black Mass – Jogo Sujo

Já aqui o dissemos que Johnny Depp está naquela fase da carreira em que basta pôr uma peruca e umas próteses para ir buscar o cheque ao fim do mês. Tudo o que seja filme que tenha personagens excêntricas vai-lhe cair automaticamente às mãos, seja a milésima sequela do Piratas das Caraíbas, o Mascarilha ou o enésimo filme do Tim Burton. Por isso, quando aparece um filme em que vemos Depp em underacting, mesmo sem ser nada de excepcional, já é o suficiente para batermos palminhas como uma adolescente que vê o Eduardo Mãos-de-Tesoura pela primeira vez.

É certo que, em Black Mass – Jogo Sujo, Johnny Depp está careca e usa uns dentes estragados. Afinal de contas, deve ser difícil tira-lo já das caracterizações excessivas. Mas em comparação com a sua carreira recente, este é o seu filme mais sóbrio, sério e, consequentemente, mais tido em conta. E só isso já merecia o filme. Mas Black Mass – Jogo Sujo é ainda mais.

Black Mass – Jogo Sujo é então a história de James ‘Whitey’ Bulger (Johnny Depp), o gangster irlandês que liderou o mundo do crime de Boston durante décadas sob a protecção mais ou menos oficial do FBI (basicamente graças ao encobrimento corrupto do seu amigo de infância, John Connolly (Joel Edgerton)). É uma epopeia sobre ascensão e queda e, como tal, é inevitável a comparação a O Padrinho. Mas Black Mass – Jogo Sujo não tem a solenidade da trilogia de Francis Ford Coppola e, por isso, mais vale pensarmos nas outras vezes que Depp fez de gangsters, como no mais levezinho Donnie Brasco.

E então um épico mais ou menos familiar e, apesar de um elenco respeitável (há ainda um desaparecido Kevin Bacon, Benedict Cumberbatch ou o sempre fiável Peter Sarsgaard, por exemplo), é Johnny Depp e Joel Edgerton o centro deste microcosmos de crime, chantagem, droga e lavagem de dinheiro. Por isso, as personagens secundárias gravitam sempre à sua volta e, apesar do realizador Scott Cooper querer dar tempo de antena a todas elas, há sempre umas que se eclipsam ou que, pura e simplesmente, desaparecem de cena sem dar cavaco. Jesse Plemons é o caso mais flagrante, já que é ele que dá o pontapé de saída para o filme, mas apenas dura 15 minutos, acabando por ser relegado para uma posição de quase espectador.

Pela quantidade de nomes sonantes no elenco e pela trama de bandidagem, lembramo-nos de Golpada Americana, mas Scott Cooper não tem nada de David O. Russell. Cooper dá espaço aos seus actores, mantém um registo sóbrio, não abusa da banda-sonora e não saltita de género em género tentando usa-los todos no mesmo filme de uma vez só. E, mesmo assim, fica a sensação de que Black Mass – Jogo Sujo precisava de mais tempo para se desenvolver, repousar e chegar a todos os lados que quer ir. E, mesmo assim, ficamos em mãos com um bem interessante McRoyal Deluxe, que não deixa os seus créditos por mãos alheias.

Título: Black Mass
Realizador: Scott Cooper
Ano: 2015

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