| CRÍTICAS | Gonzaga – De Pai para Filho

Luiz Gonzaga, o rei da música sertaneja, é um quase desconhecido em Portugal, enquanto gente como os Aviões do Forró ou o Zezé Di Camargo e Luciani vêm cá e esgotam concertos. A vida é injusta… Mas pode ser que este filme biográfico faça a diferença a quem lhe queira dar uma chance.

Gonzaga: De Pai Para Filho é um biopic sobre Luiz Gonzaga, mas também sobre o seu filho, Gonzaguinha. Assente na relação difícil entre ambos, construída sobretudo a partir da ausência do primeiro durante a infância do segundo, a história parte do encontro decisivo entre ambos para resolverem os seus diferendos pessoais, enquanto que, em registo flashback, faz toda uma vistoria à vida e obra do Gonzaga-pai.

Assim, mais do que um biopic musical, Gonzaga: De Pai Para Filho é o drama familiar entre pai e filho, o segundo destinado a seguir as pisadas do primeiro (mesmo contra as pretensões deste), e marcado por ressentimentos de parte a parte. Gonzaga: De Pai Para Filho faz lembrar Walk the Line pela complexidade pessoal dos artistas, se bem que a vida de Johnny Cash teve outros condimentos que a do brasileiro não teve (leia-se drogas, por exemplo). No entanto, a história de Luiz Gonzaga é a do típico underdog, que sobe a pulso num Brasil ainda segregacionista, fazendo da determinação uma arma para fintar o destino.

Gonzaga: De Pai Para Filho tem momentos divertidos e superiores, com aquele em que Gonzaga despede a sua banda e contrata de seguida um anão e um engraxador com quem se cruza na estrada, os quais iriam tocar juntos durante anos a fio contra todas as probabilidades. No entanto, fica sempre a ideia de que o realizador, Breno Silveira, não tem unhas para tocar esta guitarra, já que se limita a encadear momentos da vida do músico, pontuadas por cenas da actualidade, em que pai e filho dialogam. Essa estrutura episodical é, sobretudo, reflexo das contigências do filme, feito também para ser exibido por capítulos na Globo e, portanto, refém dos cliffhangers.

Recorrendo sobretudo a actores não-profissionais e/ou estreantes (e, aqui, Adélio Lima, o actor escolhido para ser Luiz Gonzaga no presente, é um erro de casting gritante), Gonzaga: De Pai Para Filho tem valor de produção suficiente para dar um retrato de época credível. Falta-lhe mais música e mais nervo, mas mesmo assim não ofende a memória de dois dos maiores músicos sertanejos de sempre, que dão bom nome a uma música que não está tão bem conotada quanto isso em Portugal. Um McChicken que serve também de processo de descoberta.

Título: Gonzaga: De Pai Para Filho
Realizador: Breno Siveira
Ano: 2012

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