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PARQUE JURÁSSICO

Em 1993, Steven Spielberg voltou ao domínio dos filmes de monstros, duas décadas depois de um certo tubarão branco o ter catapultado para o estrelato. No entanto, desta vez o monstro foi ainda mais impressionante. E o uau ainda mais longo, com o recurso a um CGI que, pela primeira vez, não parecia fajuto. Os dinossauros eram a nova conquista da sétima arte e Spielberg o seu conquistador.

Além disso, a premissa para o regresso dos extintos animais pré-históricos era minimamente credível, o que, não sendo necessariamente fundamental na ficção científica, ajuda a criar empatia. Parque Jurássico conta a história da visão utópica de um homem, uma espécie de Walt Disney (ainda mais) megalómano, que sonha criar um parque temático com dinossauros na ilha costa-riquenha de Nublar, clonando-os a partir do ADN encontrado em mosquitos preservados em âmbar.

Depois há um par de paleontólogos (Sam Neill e Laura Dern, mais Jeff Goldblum à pendura), que vão avaliar o recinto antes da abertura. Ou seja, o exacto momento em que tudo corre mal e os bichos fogem, com o filme de monstros a tornar-se num survivor movie. E como estamos a falar de um filme de Steven Spielberg, onde a componente familiar tem sempre lugar de destaque, surge na equação um par de miúdos, que vão fazer Sam Neill deixar de odiar crianças.

Em Parque Jurássico, Spielberg muda-se de armas e bagagens para um parque de diversões imenso, onde ele pode brincar com o que mais gosta – o factor de maravilhamento. E a prova de que a coisa funciona na perfeição é que continuamos a emocionar-nos, sempre com grande carga de nostalgia, quando revemos o filme e os dinossauros aparecem pela primeira vez. Aqui, John Williams também tem a sua quota de responsabildiade, ao criar uma theme song mítica, que sempre que soa nos faz salivar, qual cão de Pavlov, por qualquer coisa de fazer cair o queixo.

Depois há o t-rex a assumir o natural lugar de destaque, com os velociraptors a virem logo atrás, eles que iriam ser precisamente repescados para protagonistas do reboot Mundo Jurássico (mas já lá iremos). E para os maluquinhos dos dinossauros, o filme ainda especulava sobre as criaturas, defendendo que estas estariam mais próximas das ave do que dos répteis. Parque Jurássico é entretenimento par toda a família, incluindo paleontólogos, com as doses certas de humor, aventura e suspense. Ou seja, tudo aquilo em que Steven Spielberg se especializou. Parque Jurássico é um Spielberg clássico e um dos seus Le Big Macs.Título: Jurassic Park
Realizador: Steven Spielberg
Ano: 1993

 

O MUNDO PERDIDO – JURASSIC PARK

Steven Spielberg nem sequer queria fazer a sequela do Parque Jurássico, mas talvez por não haver mais ninguém de jeito disponível, lá assumiu as suas responsabilidades e chegou-se à frente. Ainda fiel ao argumento de Michael Crichton (autor do livro homónimo), Spielberg arranjou uma Nublar nova, onde os dinossauros do primeiro filme se desenvolveram naturalmente, promoveu Jeff Goldblum a estrela principal do pedaço (e promoveu a estreia d Vince Vaughn junto do grande público) e, claro, trouxe uma nova criança pra a história, completamente metida a martelo.

Já falei da nova Nublar, a ilha onde os dinossauros do Richard Attanborough viveram sozinhos durante 4 anos. Agora, a firma do Parque Jurássico quer captura-los e traze-los para San Diego, enquanto que o próprio Attenborough quer apenas estuda-los e preserva-los. De capitalista a naturalista em apenas 4 anos, observa pertinentemente Goldblum. Assim, é enviada para a ilha uma equipa para os estudar (com Julianne Moore à cabeça) e outra para os caçar.

A partir daqui é o survivor movie do costume, com novos dinossauros adicionados ao rol dos de Parque Jurássico e com novas (e maiores) paisagens. O problema é que neste O Mundo Perdido, parece que se esqueceram de como escrever um argumento. Os caçadores profissionais são, afinal, labregos saloios  cometer erros de principiantes, Julianne Moore tanto grita para não tocarem em nada como, logo a segui, carrega ao colo uma cria de t-rex para lhe curar uma ferida, e a filha de Goldblum, bem… a filha de Goldblum podia escrever sozinha todo um manual de idiotice. Esse manual começaria pelo facto de ter viajado pela ilha dentro dos helicópteros e dos camiões sem ninguém dar por nada, sabe Deus como, passando pela fogueira que acende para cozinhar (mesmo havendo um fogão na caravana) e terminando com o número de ginástica que faz nas barras paralelas, que culmina com um pontapé num velociraptor(!) pela janela fora, na cena mais pateta de toda a filmografia de Spielberg. Quer dizer, isto sem considerar todo o Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Mas O Mundo Perdido até se vê bem se desligarmos o cérebro e nos deixarmos levar pelo factor uau dos dinossauros (se bem que já sem o maravilhamento do primeiro, claro). O pior é que Spielberg cai na tentação de aproximar O Mundo Perdido de King Kong, o filme de monstros por excelência,e leva o t-rex até à cidade (e até o barco onde viaja tem o mesmo nome). Em mais um momento de mau argumento, o dinossauro liberta-se inexplicavelmente e anda à solda pela cidade num acto final tão curto quanto inconsequente, que só serve para enterrar o filme ainda mais na direcção do McChicken final.
Título: The Lost World: Jurassic Park
Realizador: Steven Spielberg
Ano: 1997

 

PARQUE JURÁSSICO 3

Michael Crichton já não escreveu mais nenhuma sequela dos seus parques jurássicos, mas os cabeções de Hollywood acharam que um terceiro episódio ainda renderia alguns trocos. Steven Spielberg produziu a coisa na sua Amblin e disse não me macem mais. Já Sam Neill aceitou regressar, depois de ter recusado O Mundo Perdido, e ficou tudo preparado para Parque Jurássico 3. Já só faltava um pormenor importante: uma ideia.

Tentou então sacar-se um coelho da cartola e até o próprio Crichton foi desafiado a contribuir com alguma ideia para este terceiro tomo. No entanto, não se chegou a nada satisfatório e optou-se em jogar pelo seguro: repte-se O Mundo Perdido e aposta-se as fichas todas em dinossauros ainda maiores e mais perigosos.

Sam Neill regressa então ao contacto directo com os dinossauros, desta vez à ilha de Nublar, para encontrar e resgatar um miúdo perdido. A acompanha-lo vão os pais da criança, William Ned Flanders Macy e Tea Leoni, que vai disputar aqui o prémio de personagem mais irritante de toda a série. A intriga é reduzida ao esqueleto básico do survivor movie: pessoas perdidas na selva sob ameaça de criaturas gigantes.

É introduzido o spinossauro, ainda maior que o t-rex, e os pterodáctilos têm um papel fulcral na melhor cena de todo o filme. Volta-se a dar atenção à parte científica da coisa, mas desta vez vai-se longe de mais, ao pôr os raptor a comunicarem entre si e… com Sam Neill(!). Isto era tudo demasiado, mas depois surgiu… Mundo Jurássico, e passou a menos mau.

Não há nada propriamente de mau em Parque Jurássico 3, se não o tivessemos já visto em O Mundo Perdido. Não traz nada de novo e, na maior parte das vezes, até arruina as boas ideias dos filmes antecessores. E assim se justifica o Cheeseburger.Título: Jurassic Park 3
Realizador: Joe Johnston
Ano: 2001

 

MUNDO JURÁSSICO:

O calendário marcava 2015, mas de repente estavamos outra vez nos anos 90. A febre das sequelas, remakes, reboots e prequelas começa a fixar-se também na nostalgia dos anos 90, década que nos deu flagelos como o grunge, mas também coisinhas boas como o Parque Jurássico. É este último a que nos referimos acerca das próximas linhas, com o retomar da saga: Mundo Jurássico é o quarto capítulo do franchise criado por Steven Spielberg.

Mundo Jurássico é uma sequela linear dos anteriores, uma vez que segue a ideia geral dos seus antecessores. Tal como o Parque Jurássico criado por Richard Attenbourogh (e são várias as referências que surgirão durante o filme, mais até do que seria de esperar), o Mundo Jurássico é um parque temático com dinossauros reais, estando agora completamente estabelecido e em funcionamento. Contudo, é também um recomeçar de novo da saga, visto que é o primeiro dos quatro filmes em que não entra nem Laura Dern em Sam Neill. Felizmente, o realizador Colin Trevorrow teve o bom-senso de os deixar e fora, uma vez que este filme é sobre parques temáticos e não sobre o azar de dois tipo perseguidos por dinossauros ad eternum. Lembra-se do Tubarão 4 – A Vingança?

O Mundo Jurássico está então no activo há tempo suficiente para precisar de uma nova injecção de estímulo, para atrair novo público. Os laboratórios liderados por Bryce *suspiro* Howard criam então um super-dinossauro que, além de ser uma máquina de matar, consegue também camuflar-se, enganar os radares térmicos e fazer pão com chouriço. Felizmente, trabalha lá Chris Pratt, tratador de animais, que além de andar a domesticar os raptors, vai ter um papel decisivo nas acções de resgate quando essa nova espécie escapa.

Este novo filme é uma mistura do filme de monstros (aqui com uma criatura ainda maior que o t-rex, que nos assombrou as noites em 1993) com o filme de aventuras. E, como Steven Spielberg continua ligado ao filme na sua cadeira de produtor, não podia haver um desligamento do factor família. Desta vez, o núcleo familiar são dois irmãos e a tia destes. E se a dinâmica familiar destes soam sempre a falso (como a cena metida a martelo em que o mais novo, de súbito, desata a chorar por causa do possível divórcio dos pais), bem mais interessante é a química entre Bryce Howard e Chris Pratt.

Apesar de lhe faltar o factor de maravilhamento do primeiro filme da saga (é certo que o tema do John Williams ainda não deixa em pele de galinha, mas já não é possível repetir a surpresa), Mundo Jurássico é todo ele escapismo, sem ser simplesmente escapista. Infelizmente, soçobra mesmo no final, perante a necessidade de ser maior, mais barulhento e mais espalhafatoso. É quando começam a entrar em cena os raptor e o t-rex… E Chris Pratt de mota(!)… Contudo, Mundo Jurássico é um competente retomar da saga, que tinha sido interrompida num terceiro tomo algo constrangedor. Este Double Cheeseburger, ao menos, não envergonha ninguém.Título: Jurassic World
Realizador: Colin Trevorrow
Ano: 2015

 

MUNDO JURÁSSICO – REINO CAÍDO

É incrível como é que em 2018, 25 anos depois do filme original, Parque Jurássico continua a ser chão que dá uvas. Tudo graças ao reboot de 2015, que foi razoavelmente bem conseguido. Por isso, agora que já é novamente um franchise rentável, eis Mundo Jurássico – Reino Caído, o quarto episódio da saga.

Agora com o espanhol J. A. Bayona ao leme, Reino Caído repete os protagonistas do filme anterior: Bryce Dallas Howard e Chris Pratt. A primeira é agora uma activista pró-dinossauros e o segundo está reformado, a construir uma cabana no meio do mato. Ambos vão ser contratados para irem resgatar 11 espécies de dinossauros a Nublar, em particular a Blue, a raptor de estimação de Pratt, antes que a ilha desapareça sob a erupção de um vulcão. E ambos aceitam, apesar de terem motivações diferentes.

Já todos vimos filmes suficientes com dinossauros para saber o que acontece normalmente na ilha Nublar. E Reino Caído não é excepção. Em menos de nada, Dallas Howard, Chris Pratt e os dois novos membros desta expedição (Zia Rodriguez e Justice Smith, que, além de ter a seu cargo o comic relief, assume também o papel de screaming queen, deixando para trás Julianne Moore, que tinha até então a coroa da rainha das gritadoras da saga) já estão a fugir de dinossauros de diferentes tamanhos e feitios. E o plot twist aqui é: ao mesmo tempo está a haver uma erupção vulcânica gigante.

Reino Caído funde o survivor movie com o filme-catástrofe, numa espécie de Parque Jurássico meets O Cume de Dante. E, de repente, Reino Caído salta directamente para o topo da lista das melhores sequelas de Parque Jurássico. O problema é que depois ainda falta mais meio filme.

Há então um plot twist, Reino Caído começa a esforçar-se em demasia em ser maior, mais alto e mais barulhento e até há mais um dinossauro mutante, mais rápido, mais mortal e que faz pão com chouriço e queijo. A sorte de Reino Caído é que J. A. Bayona é mais do que um mero ilustrador funcional e consegue imprimir um toque pessoal ao filme. A forma como monta as mortes das personagens, sempre sugestivas e fora de plano, ou como convoca o terror gótico (que já tinha explorado em O Orfanato), cheio de sombras, para uma cena final no topo de uma mansão victoriana, dão um toque especial ao filme que, ao quinto episódio, encontra o McChicken mais saboroso da saga desde o título original.Título: Jurassic World: Fallen Kingdom
Realizador: J. A. Bayona
Ano: 2018

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