Mais um ano, mais uma ameaça de arma branca de que, se não fizer a lista dos melhores do ano, me trespassa um rim. Costumava ser a ameaça para enviar as minhas fotos nu, mas de lá para cá toda a gente tem vindo a receber fotos de pila minhas pelo Natal, pelo que a ameaça acabou por se esvaziar. E eu, trombudo e emburrado, anuo em fornecer este tão precioso bem. Até estar concluída a lei que irá regularizar a proteção de dados de preferências cinematográficas, cá estou eu a ser vilipendiado por este mânfio que escreve neste blogue e cuja principal ocupação é um salão de cabeleireiro para cães na baixa de Setúbal. Um tipo que ama os animais. “Ama” os animais, se é que me faço entender. Adiante.
O júri de Coimbra reuniu e decidiu que seria esta a lista de melhores filme de 2022. Atentai que a minha lista contempla filmes cuja data de estreia é a oficial do IMDB e Letterboxd e não esse preconceito sebastiânico originário no Estado Novo pejado de demagogia judaico cristão que é, blerghhh, a DatA dE EstREiA OfiCial eM pORtuGAl. Até porque já sei que o cabeleireiro de cães aqui da casa me vai mutilar os títulos para os nacionais e depois nem eu reconheço que raio de lista é esta. Até me farto de rir a gozar com as escolhas parvas e depois verifico que fui eu que a fiz…
10º Lugar
Barbarian, de Zach Cregger
Este projétil que chegou inesperadamente aos nossos regaços veio subverter o género de terror e fazer um reset ao género. É giro, sim senhor, mas não nos entusiasmemos em demasia. Fresco, jeitosinho, com uma meia hora no meio que se dispensava.
9º Lugar
O Predador – Primeira Presa, de Dan Trachtenberg
O segundo melhor Predador de sempre, empatado com o Predador 2 de 1990. Simples e eficaz, passado num tempo e local além do umbigo ocidental. Talvez um pouco, ainda assim uma bela sessão de cinema. Representação indígena, check, Predator com efeitos práticos, check, viagem do herói com falhas e excesso de autoconfiança, check.
8º Lugar
Ovo, de Hanna Bergholm
O Ovo que vem do norte, da Finlândia, de uma zona que tem das melhores e mais frescas cinematografias dos anos 2000. Uma familia disfuncional mata um pássaro, a filha criança fica-lhe com um ovo. Que choca e se transforma numa bela herança de Cronenberg aliada ao surrealismo absurdista de Lanthimos. Tudo isto numa projeção traumática de uma criança que apenas quer uma família feliz. Lindo, neurótico, violento, sereno.
7º Lugar
Terrifier 2, de Damien Leone
Duas horas e meia de gore extremo às mãos de um palhaço assassino com requintes de malvadez nunca antes visto. Com a sua amiga criança demónio imaginária, vai decepando gente e brutalizando a vizinhança em noite de Halloween. Ainda lhe resta tempo para entreter as criancinhas que, coitadinhas, lhe acham um piadão. Só para profissionais, não vejam isto se forem daquelas pessoas que usam pelo menos uma vez por semana a expressão “Está em que plataforma?”. Ainda assim não é tão assustador com as sessões de discoteca ambulante do palhaço Batatinha.
6º Lugar
Weird: The Al Yankovic Story, de Eric Appel
Um fake biopic feito ao estilo da sua obra. Engraçado e espirituoso, uma belo universo alternativo onde o acordeão e o polka são as armas da revolução. Daniel Radcliffe continua com as melhores decisões profissionais, imaginando eu que uma escolha mais comercial lhe benificiaria a carreira.
5º Lugar
A Oeste Nada de Novo, de Edward Berger
A terceira adaptação do famoso livro de Erich Maria Remarque, algo diferente do seu material original mas mantendo o tom. E o tom é “abandonem toda a esperança” numa mensagem intemporal de que nada de bom vem da guerra. Fotografia belíssima e todas as áreas técnicas a checarem as caixas dos Oscars.
4º Lugar
Três Mil Anos de Desejo, de George Miller
Não é um Mad Max que George Miller nos trás, mas é uma rara obra de sensibilidades rica em pontos de vista e efeitos visuais. O que querem as mulheres? Miller enterra-se neste argumento saindo ganhador. Tilda Swinton e Idris Elba, um power couple a dar cartas e a esmiuçar as imperceptíveis tonalidades da emoção humana.
3º Lugar
Crimes do Futuro, de David Cronenberg
O parque de diversões Cronenberg volta à cidade, com todas as populares diversões que nos habituamos a amar ao longo de 40 anos de carreira. A nova carne, o body horror, a transformação do meta humano, a próxima mutação. Orçamento baixo que lhe fez estragos pois poderiamos estar na presença num dos melhores de sempre. Ainda assim, um puro sangue Cronenberg, na linha directa de sucessão ao trono.
2º Lugar
Os Espíritos de Inisherin, de Martin McDonagh
Opá, este vi ontem. Não estava nada à espera. É certo que a obra de Martin McDonagh é escassa, mas nunca falha. Este seu quarto filme é, novamente, uma obra prima. Além do humor único e incopiável, das performances superiores, da narrativa homerico-pateta existencialista parolo-insular e da banda sonora assombrosa, tem uma superior direção de fotografia e olho para a composição. Martin McDonagh faz tudo parecer fácil ou mesmo batota. Mas não é.
1º Lugar
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan & Daniel Scheinert
Na verdade, o filme preferido de toda a gente de bom gosto. E como estreou cá em sala também é candidato em todas as listas, não apenas das da malta moderna e fixe. Um prodígio da imaginação e na arte da edição, um filme que atira o multiverso da Marvel para a valeta no ano que seria a sua grande novidade.
Malta, subscrevam, carreguem no sininho, comentem aí em baixo? Galera, qual é o vosso top 10? Concordam, discordam? Joínha! Mandem fotos das vossas primas jeitosas. Podem encontrar-me em www.cinemaxunga.net e nos podcasts “Nas Nalgas do Mandarim” e “Radio Cinemaxunga”. Temos um livro à venda, o quarto volume do Anuário do Videoclube do Sr. Joaquim que está em 8 lugares do top 10 do New York Times. Nem vale a pena comprarem, já há poucos. Só para merecedores. Vai depender muito das fotos das primas.