
Kathryn Bigelow andou década e meia a fazer filmes sem que ninguém lhe prestasse grande atenção, até ter sido recuperada em 2008, quando assinou Estado de Guerra, colando-lhe o rótulo de realizadora de filmes de homens. É certo que mais vale tarde do que nunca, mas os filmes dessa primeira fase da sua carreira são até mais interessantes do que estes mais recentes, que lhe têm valido mais atenção, prémios e os aplausos da crítica.
Prestes a Explodir, o seu novo título produzido com a chancela da Netflix, insere-se nesta fase recente da sua obra sobre os bastidores e os procedimentos da guerra. Mais do que a violência e as mortes no terreno, a Bigelow interessa mais o teatro de operações e tudo o que está por trás. Em Prestes a Explodir, a realizadora leva esse processo ainda mais longe do que num filme como 00:30 A Hora Negra, por exemplo. Prestes a Explodir é de tal forma didático que, por vezes, Bigelow tem mesmo que colocar pequenas notas de rodapé a explicar o que são as complicadas siglas que as personagens vão debitando em cima umas das outras.
E, no entanto, a história do filme não poderia ser mais simples. Lembrando que o relógio do apocalipse está mais próximo da meia-noite do que nunca, Katheryn Bigelow monta um filme sobre a ameaça nuclear assente numa das premissas mais antigas do mundo: e se…? Neste caso, a questão é e se alguém disparasse um míssil contra os Estados Unidos? Prestes a Explodir acompanha essa hipótese em três frentes, se bem que não o faz em simultâneo. Ou seja, o filme conta a mesma história de três pontos de vista diferentes. E, sempre que uma dessas partes termina, a história rebobina atrás e recomeça do início, agora seguindo outras personagens.

Primeiro acompanhamos a capitão Olivia Walker (Rebecca Fergunson) na Sala de Crise da Casa Branca a partir do preciso momento que os radares do Pacífico detectam um míssil a aproximar-se de Chicago, até ao preciso momento em que este entra no espaço aéreo da windy city; na segunda parte, acompanhamos Jake Baerington (Gabriel Basso), conselheiro de Estado, a procurar desescalar a situação e a tentar convencer aqueles militares todos a não retaliarem a Rússia/Coreia do Norte/China/whatever; e, por fim, seguimos o próprio presidente do Estados Unidos (Idris Elba, que ainda há poucos meses vimos a fazer de primeiro-ministro britânico no Heads of State), com o terrível dilema entre mãos de ter que decidir o futuro do seu país e… do mundo como o conhecemos.
Prestes a Explodir é um filme que coloca uma pergunta extremamente pertinente, especialmente perante os tempos que correm, e que procura ser tão preciso que se esquece de colocar personagens lá dentro. Por vezes, há algumas delas que demonstram emoções (o Presidente que hesita com a pressão, o Secretário da Defesa que procura falar com a filha que está em Chicago ou a capitão Walker que tem o filho doente em casa), mas rapidamente isso é absorvido e atafulhado por todos os procedimentos daqueles departamentos e institutos de siglas complicadas, que Kathryn Bigelow se esforça por descrever em detalhe.
Não é um mau filme, antes pelo contrário, mas falta a Prestes a Explodir a emoção e a tensão dos thrillers políticos paranóicos dos anos 70, com os quais faz uma rima muda. Não quer dizer que seja melhor ou pior, é apenas diferente. E com o McBacon, Kathryn Bigelow é capaz de assinar aqui o seu melhor filme desde Estado de Guerra.

Título: A House of Dynamite
Realizador: Kathryn Bigelow
Ano: 2025
