Em 1977, os Khmer Vermelhos de Pol Pot tomaram o poder no Camboja e instauraram um regime comunitário socialista, que pretendia erradicar todos os vestígios imperialistas e recomeçar uma nova sociedade pura e livre de vícios. Esvaziaram as cidades e construíram gigantescos campos de trabalho – de reeducação, perdão – onde milhares perderam a vida. Um holocausto comparado ao outro, aquele com letra maiúscula, mas com menos repercussão. O que não significa que tenha sido menos cruel.
O realizador Rithy Panh tinha 13 anos quando o Camboja se transformou na Campucheia e passou a sua adolescência nesses campos de trabalho. A convivência de perto com a tortura, a fome e, especialmente, a morte, marcaram-no profundamente e têm povoado a sua cinematografia, que tem agora o seu momento mais autobiográfico. Com a sua própria voz-off, Panh conta o que foram aqueles anos no Camboja, segundo a experiência pessoal.
A found footage é diminuta e, portanto, Panh recorre a reconstituições com pequenos bonecos de argila pintados à mão. Diaporamas artesanais e imóveis que, no entanto, devido à força das palavras, tem mais dinâmicas que muitos dos blockbusters de Hollywood. Comparamos A Imagem Que Falta com 48, outro documentário de memórias sobre um regime autoritário, e as diferenças são abismais. Perante a falta de imagens de arquivo, A Imagem Que Falta engendra um ensaio sobre essas imagens em falta, que são simultaneamente as imagens em falta na opinião pública generalizada.
Tal como o Holocausto, também o que se passou no Camboja deve ser relembrado e nunca esquecido. Até porque sabemos que a história é cíclica e isto vai servir de mau exemplo outra vez, num futuro qualquer. é um Le Big Mac perturbador qb – depende do vosso nível de conhecimento do que se passou no Camboja; o meu era nulo e, por isso, o impacto foi brutal. E ainda faz uma rima muda com outro documentário que estreou na mesma altura, O Acto De Matar. Vão vê-lo e já conversamos sobre isso.
Título: L’image Manquante
Realizador: Rithy Panh
Ano: 2013