Daqui a poucos anos, se o mundo for um local justo, o realizador Eduardo Morais receberá as insígnias Ordem do Infante das mãos do nosso Presidente da República pelo seu contributo para a cultura portuguesa. É que desde que lançou Meio Metro de Pedra, Eduardo Morais tem feito um trabalho de garimpagem tremendo, resgatando a história da música portuguesa e registando-a no grande ecrã.
Assim, depois da história do rock português nesse tal Meio Metro de Pedra, Eduardo Morais lançou – entre outros projectos mais ou menos interessantes – Música em Pó, dedicado aos coleccionadores de vinil em Portugal, e Uivo, sobre o radialista António Sérgio (vénia encarpada com saída à rectaguarda). E agora Tecla Tónica, documentário sobre a música electrónica em Portugal.
Tal como os anteriores, Tecla Tónica é um documentário de cabeças falantes, que segue em ordem cronológica as várias fases da música electrónica/experimental/whatever no nosso país, entrevistando desde musicólogos obrigatórios como José Carlos Callixto até aos intervenientes directos desta história, como Vítor Rua, Carlos Zíngaro, José Cid ou o DJ Vibe. Estas fases são todas cosidas pela voz-off do narrador, que ajudam a dar integridade e a fornecer as coordenadas para esta jornada musical.
Não há nada de propriamente inovador do ponto de vista cinematográfico em Tecla Tónica, que enche os espaços vazios entre as entrevistas com algum material de arquivo (e vemos um momento fantástico de Os Abismos da Meia-Noite, do António de Macedo), uns clips de vídeos vintage e algumas digitalizações. O que realmente importa em Tecla Tónica é, portanto, o seu conteúdo e, aqui é imaculado. Está lá tudo, desde a primeira gravação electrónica em solo português (com o Espaço 3p), curiosidades como um lado b esquecido da Manuela Bravo ou o início do Eu tenho dois amores e a revolução lisboeta das pistas de dança. Tecla Tónica é assim um McChicken, cujo trabalho de sapa valoroso potencia para o McBacon final.Título: Tecla Tónica
Realizador: Eduardo Morais
Ano: 2016