O cinema de animação continua a ser controlado e dominado pelo binómio Pixar/Disney, mas se estivermos com atenção, vamos encontrando nos períodos mortos entre os lançamentos outros filmes que merecem a nossa atenção. Por vezes, até merecem mais do que certos e determinados títulos… Curiosamente, no ano passado, 0s melhores desses desenhos-animados acabaram nomeados ao Oscar de melhor animação. Um foi Kubo e as Duas Cordas, história sobre a importância da tradição oral; e o outro foi este A Minha Vida de Courgette, que além da nomeação da Academia já havia recebido loas apaixonadas durante Cannes.
A Minha Vida de Courgette é um pequeno filme em stop motion (tem apenas uma hora), com um certo ar artesanal, sobre um menino a quem chamam de Courgette que vai parar a um reformatório para órfãos e crianças institucionalizadas – uma menina abusada pelo pai, outro que foi tirado dos pais toxicodependentes, uma miúda que ficou sozinha quando a mãe foi deportada para África… É uma espécie de casa para onde vão crianças que não têm quem os ame, mas juntos vão criar a sua própria família e descobrir que também para eles a felicidade é possível.
Apesar dos bonecos serem reminiscentes das animações melancólicas iniciais de Tim Burton (alguém mencionou Vincent?), o estilo e a técnica de A Minha Vida de Courgette podem parecer desadequados para abordar temas tão sérios. Contudo, tal como aqueles filmes que existem para nos lembrar que o mais importante no cinema é uma boa história e não a quantidade industrial de fogo-de-artifício, também este serve para nos provar que os desenhos-animados, independentemente da técnica ou do estilo utilizado, servem para contar qualquer tipo de história.
É um filme quase minimalista, feito de pormenores, como os passarinhos que vão fazendo o ninho ou a banda-sonora, que é quase ela própria uma personagem. A música de Sophie Hunger está para A Minha Vida de Courgette assim como a de Yann Tiersen está para O Fabuloso Destino de Amelie ou a de Camille está para O Principezinho. A Minha Vida de Courgette não inventa nem procura inventar a roda. Limita-se a contar, com grande simplicidade e realismo, a história de um grupo de meninos órfãos e com vidas familiares difíceis, que têm que aprender a confiar nas pessoas e a descobrir o valor da amizade. E apesar de ser um desenho-animado em stop motion, sofremos com aquelas personagens que, apesar de não serem de carne e osso, têm mais humanidade que muitos dos filmes que vemos estrear por aí. Este McBacon não lhe faz inteira justiça.Título: Ma Vie de Courgette
Realizador: Claude Barras
Ano: 2016