| CRÍTICAS | Wild Card – Jogo Duro

Jason Statham é o Sylvester Stallone do século XXI. Ou seja, um saco de músculos dedicado a mil e quinhentos filmes de acção, alguns deles altamente patetas. Não é por acaso que Sly tenha ensaiado uma espécie de passagem de testemunho em Os Mercenários. Isso não é propriamente mau e até poderia ser um elogio se, no entanto, Jason Statham não fosse o Stallone, mas o dos anos 90, aquele cuja filmografia caiu numa irrelevância de filmes sensaborões e não sabia o que fazer com a vida.

Wild Card – Jogo Duro é um excelente exemplo disso. É um remake de O Poder da Justiça, filme menor de Burt Reynolds, mas em versão ainda mais bolacha Maria, pouco mais do que anónima, mesmo que o realizador seja Simon West, o autor desse clássico do cinema xunga que é Con Air – Fortaleza Voadora. E apesar das boas sequências de acção – elegantes e editadas de forma esclarecida, o que cada vez é mais difícil encontrar -, que é mesmo o melhor do filme, Jason Statham apenas se limita a andar por ali, como se estivesse a fazer um frete.

Statham é então Nick Wild, um antigo agente especial que trabalha em Las Vegas como segurança privado (e pau para toda a obra porque a vida não está fácil para ninguém, incluindo um prólogo pouco mais do que risível em que finge levar porrada de Jason Alexander para que este convença Sofia Vergara a casar com ele(!)) e que está cansado da vida que leva, sonhando com o dia em que se reformará e poderá viver no mar da Córsega. No entanto, esse dia parece cada vez mais longe, primeiro quando vai tentar vingar uma prostituta amiga da coça que levou dum gangster bem colocado no submundo de Vegas e, depois, quando um puto ricaço (Michael Angarano) o contrata para o acompanhar nos casinos.

Mais do que desencantado, Statham não consegue tirar Las Vegas do sangue e, por isso, sabota-se a si próprio quando está quase a conseguir abandonar a cidade e aquela vida que detesta. Por isso, Las Vegas é a principal protagonista de Wild Card – Jogo Duro. Ou melhor, deveria ser, porque não é mais do que meramente ilustrativa, um postal de férias que se limita a slot machines e mesas de jogo (e para quem está habituado a jogar, as cenas de blackjack são quase um insulto).

Realizado sem chama, amorfo como a própria personagem de Jason Statham, Wild Card – Jogo Duro parece ainda ser vários filmes num só, sem qualquer ligação entre si. Há personagens que desaparecem tão rapidamente quanto aparecem (Jason Alexander e Sofia Vergara, por exemplo), depois um revenge movie que é também rapidamente interrompido para se transformar em filme de casino e, logo de seguida, baralha tudo outra vez para voltar a dar, num filme de acção pouco interessante. Uma Hamburguesa de Choco na qual, desconfio, até se esqueceram de pôr sal.Título: Wild Card
Realizador: Simon West
Ano: 2015

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