Se houve coisa que Rush- Duelo de Rivais permitiu foi perceber que era possível fazerem-se filmes sobre desportos que não propriamente de massas. É certo que o ténis (assim como a fórmula 1) está num patamar de popularidade bem diferente de uma, digamos, patinagem artística (estou a lembrar-me de Eu,Tonya, claro), mas quantas pessoas sabem quem foi Bjorn Borg ou John McEnroe em comparação com as que sabem que é Cristiano Ronaldo e Messi ou Michael Jordan e Magic Johnson?
Bjorn Borg e John McEnroe foram então, não só dois dos maiores tenistas de todos os tempos, como protagonizaram uma das maiores rivalidades dos courts. Rivalidade essa que atingiu o ponto caramelo na final do torneio de Wimbledon, em 1980, considerado por muitos como a melhor partida de ténis da história da modalidade. É que a rivalidade entre ambos não podia ser mais apetecível aos olhos do público: o primeiro, sueco, era conhecido pela sua calma, em contraste com o segundo, norte-americano, famoso pelos ataques de fúria, raquetes destruídas e ofensas aos árbitros; Borg era um jogador fortíssimo da linha de fundo enquanto que McEnroe gostava de subir à rede; e o sueco era uma estrela mundial amada por todos enquanto que o norte-americano era o rebelde sem causa que todos gostavam de odiar.
Borg vs. McEnroe aborda essa rivalidade, a partir do ponto de vista de ambos os tenistas, em vésperas do início do torneio de Wimbledon e culminando com a mítica partida. Funcionando em várias realidades temporais (a actualidade, mas também voltando atrás, em regime de flashbacks, para ilustrar o hoje com a origem dos tenistas enquanto jovens), Borg vs. McEnroe são dois filmes num só. A parte do sueco é como ele, formal e organizada, enquanto vai sofrendo com o peso da pressão e da fama; e a parte do norte-americano é como ele, emotiva e rock’n’roll, enquanto continua a tentar cumprir as expectativas dos pais.
É quando estas duas histórias se tocam que o filme realmente acontece. Porque não é tão esquemático e porque permite ao realizador, Janus Metz, libertar-se também para o seu próprio filme. É precisamente aqui que são recriadas as partidas de ténis, com o realizador a ir buscar novos planos a que não estamos habituados a ver nas transmissões televisivas, recriando o jogo com nova emoção. Isto não é nada pouco para uma espécie de blockbuster elegante, que conta ainda com Sverrir Gudnason e Shia LaBeouf a encarnarem com bastante brio os dois tenistas que, pela curta distância temporal, ainda nos recordamos como se tivesse sido ontem (e no caso de McEnroe não foi assim há tanto tempo quando isso). E sabem quem ganhou este jogo? Não vos damos spoilers, mas dizemo-vos que Janus Metz ganhou aqui um McBacon com este filme.
Título: Borg McEnroe
Realizador: Janus Metz
Ano: 2017