Houve uma altura em que os Pixies eram a melhor banda do mundo (e, de certa forma, ainda o são, mas não é isso que aqui interessa). depois terminaram e quando se reuniram outra vez foi alta tesão do mijo. Quem não se lembra da apoteose do concerto no Super Bock Super Rock, naquela edição que acabou… a Super Bock? Depois o interesse começou a decair. É certo que a Kim Deal saiu e os novos discos são uma merda, mas ao vivo continuam os mesmos. No entanto, perante a falta de entusiasmo, tudo passou a servir para lhes atirar à cara, incluindo aquilo que sempre foram: que não falam com o público, que os concertos são curtinhos, yada yada yada.
Com Philippe Garrel passa-se exactamente o mesmo. O que, por analogia, nos pode levar a concluir que o realizador francês é o Frank Black do cinema. Garrel continua a fazer o mesmo filme, igual a si mesmo, com todas as suas marcas e características: o preto e branco, a temática das relações amorosas e sobretudo das traições e uma carga autobiográfica, que ultimamente se reflecte no facto de ter sempre um filho no elenco. E, contudo, tudo que ele sempre foi é também utilizado por muitos para o criticar.
Quem viu os seus filmes anteriores não se vai entusiasmar com nada de novo em O Amante de Um Dia, o drama familiar que se constrói a três, entre o pai erudito (Éric Caravaca), a sua jovem amante com libido a mais (Louise Chevillotte) if you know what I mean e a sua filha (Esther Garrel), da mesma idade da namorada, que regressa para casa depois de uma separação agreste. É um triângulo que se desenha quase sempre em perda e que é sempre assombrado pelo fantasma da traição.
Lembro-me que quando estreou Os Amantes Regulares de ter lido uma crítica qualquer que chamava Garrel de múmia da nouvelle vague. É uma forma de ver as coisas. Afinal de contas, os seus filmes têm uma certa forma de ser quase artesanal, de tempos idos. E, no entanto, é exactamente isso que nos entusiasmava no filme. É como os Pixies, ninguém vai aos seus concertos para ouvir as músicas novas. Também não vamos ver um filme do Philippe Garrel à espera que se invente a roda. Mas, mesmo assim, confesso que esperava mais do que um Cheeseburger.Título: L’amant D’un Jour
Realizador: Philippe Garrel
Ano: 2017