O western tem dois tipos de heróis que, apesar de serem aparentemente diferentes, têm mais em comum do que parece à primeira vista. Os primeiros são os forasteiros que surgem para impôr a lei e a ordem, de forma normalmente solitária e que depois voltam a desaparecer. É o caso do Homem sem Nome, de Clint Eastwood, e da maioria dos filmes de John Wayne. Os segundos são igualmente heróis solitários, mas insolentes, bon vivants e dedo leve no gatilho, que vivem o momento e ao sabor do vento. É o caso da maioria dos filmes de Dean Martin ou Kirk Douglas.
É precisamente este último o protagonista de Homem Sem Rumo. Conhecemo-lo logo a abrir o filme, a viajar à pendura no comboio despreocupadamente, até chegar a um vilarejo como tantos outros. Depois de fazer amizade com o jovem William Campbell, ambos arranjam emprego numa criação de gado local,acabando por se verem enleados numa disputa com outros criadores pelos pastos para as vacas.
Por entre o bromance com William Campbell e a relação muito screwball com Reed Bowman, a dona da quinta, Kirk Douglas vai-se impondo como macho alfa da picada, apesar do trauma com… arame farpado(!). Sim, o arame farpado é o leitmotiv de Homem Sem Rumo, tanto quanto motivo de discórdia entre os criadores, quanto símbolo castrador da liberdade do caubói, que com os campos vedados deixa de poder vaguear livremente ao sabor do vento. E quando isso acontecer acabará o western. O que significa que Homem Sem Rumo é um filme a antecipar a morte do género.
Homem Sem Rumo é um daqueles westerns que explicam na perfeição porque é que este foi um género tão popular durante o período áureo de Hollywood. É que tem todos os elementos que são sinónimo de entretenimento: mocinhos e bandidos, romance, tiros, lutas em saloons e muita camaradagem. Ficam a faltar os índios e a cavalaria para o assalto final, mas Kirk Douglas (que fazia este papel com uma perna às costas) compensa tudo isso e ainda justifica o McBacon que vem para a mesa.
Título: Man Without a Star
Realizador: King Vidor
Ano: 1959