Steven Spielberg pode ter criado o conceito de blockbuster, mas foi Michael Bay que o definiu como o conhecemos hoje em dia. Depois de se formar na escola dos videoclips em pleno auge da MTV, Bay aprimorou o conceito de filme-pipoca, percebendo como é que funcionava a fórmula: um pouco de todos os condimentos populares de entretenimento (aventura, romance, drama, comédia…), servidos em doses iguais, e intercalados sempre por uma explosão. Ou um tiroteio. Ou uma explosão e um tiroteio. Com o passar dos anos, Bay iria estilizar ainda mais essa fórmula, retirando os poucos os restantes condimentos e deixando apenas as explosões, mas isso é tema para outra conversa (para um dia que falemos dos Transformers, claro).
O Rochedo foi o episódio anterior a Michael Bay ter atingido o ponto-caramelo, com Armaggedon. Depois do sucesso de Os Bad Boys, serviu-se dum orçamento ainda maior para ir recrutar duas estrelas para protagonistas (Nicolas Cage e Sean Connery, repetindo o buddy movie de Os Bad Boys, mas agora a contrapor a classe e o low profile de Sir Sean Connery com os excessos de Nic Cage) e um nome conhecido e respeitável para vilão (Ed Harris). Posto isso, sentou-se a costurar um argumento com vários momentos tirados de outros filmes, disposto a, qual monstro de Frankenstein, erguer o maior filme de acção até à data.
Ed Harris é então um militar condecorado e com um passado respeitável nas forças armadas norte-americanas que, cansado de ver colegas seus a perderem a vida e a não receberem o reconhecimento devido, engendra um plano maquiavélico: rouba uma série de mísseis biológicos, sitia-se na prisão de Alcatraz e aponta-os a São Francisco, ameaçando o Governo com as suas exigências. Um terrorista com fins nobres, mas meios doentios, até porque este não é o típico vilão do blockbuster tradicional, que normalmente é bidimensional.
Posto isto, as entidades americanas só têm uma solução: ir buscar ao fundo dos calabouços um antigo espião britânico (referência ao James Bond?), que foi a única pessoa a conseguir escapar com vida de Alcatraz, e que agora é a única oportunidade para meter lá dentro o geek-mor Nicolas Cage, especialista em armas químicas, para desarmar os mísseis. Bem-vindos à revisitação pós-moderna de Os Fugitivos de Alcatraz, mas com a ilha-prisão a ser aqui representada como um parque de diversões de túneis, carris e vagões abandonados, em contraste com o labirinto de trevas, humidade e ameaças do filme de Don Siegel.
Depois polvilha tudo com o habitual excentrismo over-the-top de Nicolas Cage (aqui até nem tanto over-the-top quanto isso), uma perseguição destruidora pelas ruas de São Francisco com dezenas de carros abalroados e um funicular destruído, explosões e mais explosões, tiroteios por dá aquela palha e, claro, a tal ameaça biológica que, diz-nos o mundo das trivialidades, serviu de inspiração para a imaginação fértil do soldado britânico que havia jurado visto armas de destruição maciça semelhantes no Iraque. Isso diz muito de como os filmes de Michael Bay se inserem na nossa cultura popular, num exercício de autofagia pop que tem muito de Tarantino (supostamente ainda eu uma voltinha neste argumento, apesar de não estar creditado, o que até faz sentido tendo em conta uma cena final em que Cage espeta uma agulha no coração que tem Pulp Fiction escrito por todo o lado), mas em gesto pós-modernismo de apropriação ready-made, mastiga-e-deita-fora.
O Rochedo é o blockbuster total: dá para rir, para chorar, para nos empolgarmos, para nos assustarmos… Mas tudo sem nos engasgarmos no Cheeseburger, já que é tudo planeado ao pormenor para ser engolido com a coca-cola e digerido logo a seguir, sem pensarmos muito no assunto. E o que é certo é que funciona.
Título: The Rock
Realizador: Michael Bay
Ano: 1996
Eu não me atrevo a ver este filme de novo, porque na altura que o vi, tinha praí 15 anos, adorei imenso. Prefiro guardá-lo na memória como bom. Estraguei bastantes bons filmes como Karaté Kid, Star Wars, The Last Dragon, Meteor Man, entre tantos, que parei de ver os bons filmes da minha infância/adolescência. Acho que os únicos que continuaram muito bons ainda são Evil Dead e História Interminável.