Will Smith tem a aspiração de ganhar um Oscar e, de quando em vez, arrisca tudo num filme sério. Depois do biopic de Muhammad Ali não ter funcionado, Will Smith tentou o dramalhão de faca e alguidar, primeiro com Em Busca da Felicidade (a sua segunda nomeação da Academica) e a seguir com Sete Vidas. O passo seguinte foi experimentar o drama baseado em casos reais. E quando A Força da Verdade nem sequer foi nomeado, Smith acusou a Academia de racismo, levando à polémica #OscarSoWhite e com a sua esposa a tentar boicotar a cerimónia.
E, no entanto, independentemente dos Oscares serem demasiado brancos ou não (e eram), A Força da Verdade não merecia a nomeação. Nem sequer pelo facto de estar todo formatado para a corrida às estatuetas, com o tipo de história que a Academia tanto gosta: um médico que, contra tudo e todos (e aqui o tudo e todos é o lobby da liga profissional de futebol americano), denuncia as lesões cerebrais que a modalidade provoca e que tem levado tantos ex-jogadores à depressão, à loucura precoce e ao suicídio. Até porque, apesar de ser cidadão estrangeiro (um nigeriano que só em 2015 conseguiu a cidadania norte-americana), ele é o típico arquétipo do herói americano, que prova que qualquer pessoa, independentemente da sua origem, raça ou religião, consegue alcançar o american dream se se mantiver firme nas suas convicções. E, além disso, é um médico temente a Deus. Há algo mais patriota e que grite USA mais alto do que isto?
Mas A Força da Verdade é um filme demasiado centrado na figura de Will Smith (ou melhor, na sua personagem do doutor Bennet Omalu) e não tanto na denúncia. É tão self-centered que, quando Smith e a sua esposa (Gugu Mbatha-Raw) estão a ter um diálogo profundo à beira-mar e esta lhe revela que foi atacada nos seus primeiros tempos na América, ele pergunta-lhe o que se passou e ela responde não interessa. E continuam a falar dele, do seu umbigo e de como o universo gira em seu redor.
Além disso, a personagem de Will Smith é sempre demasiado perfeita – demasiado íntegro, demasiado altruísta, demasiado tudo. E isto, aliado ao seu tempo de antena constante, faz com que o filme não tenha qualquer pico de intensidade e decorra sempre ao mesmo ritmo, num tom demasiado monocórdico. No final, a importante história que se queria aqui contar acaba por sair frouxa, sem metade da força e da pertinência que tem, até porque ainda é um episódio demasiado recente e actual – foi apenas em 2011 que a NFL admitiu que os estudos de Bennet Omulu eram correctos. Portanto, o Cheeseburger de A Força da Verdade é servido aqui às colheradas, como a grande xaropada que é.
Título: Concussion
Realizador: Peter Landesman
Ano: 2015