A eutanásia é, quiçá, o tema tabu definitivo do mundo ocidental. Apesar do debate sobre o assunto vir a lume de quando em vez (lembram-se da semana passada?), continua invariavelmente em águas de bacalhau, salvo algumas excepções que confirmam a regra. A Holanda é um desses casos, a Bélgica outro e o doutor Jack Kevorkian será, provavelmente, a excepção mais conhecida em todo o mundo e que mais tinta fez correr.
Jack Kevorkian (interpretado por um empenhado Al Pacino) foi um médico norte-americano que, num país cuja constituição garante o direito a andar armado, defendeu o direito a morrer condignamente, em caso de doença terminal. A partir dos anos 90, Kevorkian pôs a definição de “suicídio assistido” no dicionário, ajudou mais de 140 pacientes a porem fim à vida e enfrentou várias batalhas legais, até acabar por passar 8 anos na prisão. Ainda antes de morrer, o doutor Morte – alcunha pelo qual ficou conhecido – ainda veria este biopic da HBO.
Os telefilmes da HBO estão para os biopics inspiracionais assim como os telefilmes da BBC estão para os filmes de época. Valores de produção elevados, uma linguagem mais cinematográfica do que a simples escala televisiva e, normalmente, o recurso a nomes consagrados da indústria. Para este You Don’t Know Jack, o realizador escolhido foi Barry Levinson, homem habituado a filmar casos da vida (olá Rain Man – Encontro De Irmãos), e o protagonista foi Al Pacino, que após tantos anos a fazer merda, lá voltou a justificar os seus pergaminhos.
Quanto ao filme, é um biopic sob o ponto de vista de Jack Kevorkian, que procura dar uma nova perspectiva sobre a sua vida e sobre a discussão da eutanásia. No entanto, falta-lhe um pouco mais da outra parte. Ou seja, que os que se opõem à eutanásia não fossem apenas uma massa colectiva, apoiada sobretudo na direita conservadora norte-americana. Mas a paleta de cores de You Don’t Know Jack é mais vasta do que isto, com uma Susan Sarandon que infelizmente não aparece mais tempo e com Brenda Vaccaro e John Goodman a terem destaque.
Na ponta final, este ganha contornos de filme de tribunal, o que torna o último acto do filme algo maçudo, mas que acaba por fazer sentido para que You Don’t Know Jack complete o círculo. E no fim, após a digestão do McRoyal Deluxe, o debate em redor da eutanásia regressa a onde começou: à estaca zero.
Título: You Don’t Know Jack
Realizador: Barry Levinson
Ano: 2010