| CRÍTICAS | Cam

Uma vez vi um site em que havia vários canais disponíveis, onde determinadas meninas estavam em streaming, fazendo coisas para a câmara enquanto conversavam com quem assistia a troco de dinheiro. Foi para pesquisa de um trabalho da escola e foi um amigo que me falou disso, claro. Por isso, quando comecei a ver Cam nada daquilo me apanhou desprevenido.

Madeline Brewer é uma dessas camgirlsi e está obcecada em chegar ao top 10 das mais vistas e mais populares. Para isso, dedica-se de corpo e alma à causa. Cria espectáculos diferentes e temáticos todas as noites e mantém uma relação de proximidade com os seus clientes. Isso permite-lhe viver uma vida confortável financeiramente (mesmo que a família não saiba), além de que a visibilidade e o reconhecimento a deixam realmente satisfeita.

Enquanto tudo decorre dentro da normalidade, Cam segue como um filme sobre os dias de hoje. A tecnologia, a exploração do corpo e até o feminismo, conceitos cada vez mais normalizados na sociedade ocidental actual. Até que, de repente, a coisa muda. Madeline Brewer acorda um dia e alguém está loggado na sua conta. Tem o seu aspecto, fala como ela e é um duplo perfeito. Será um erro no software, um duplo ou algo sobrenatural?

Como em todos os filmes sobre doppelgangers, Madeline Brewer começa a entrar em parafuso. Afinal de contas, uma réplica nossa é a única pessoa que contamos ver à nossa frente. E se isso começar a interferir com a sua privada, pior ainda. Por isso, ao thriller psicológico, Cam junta ainda várias reflexões pertinentes, começando logo pelos perigos da vida online e terminando no papel fundamental que a tecnologia tem nos nosso dias de hoje.

No entanto, não deixa de ficar a sensação de que Cam era material apenas para uma curta, que o realizador Daniel Goldhaber teve que esticar com recurso a alguns clichés e repetições. Ou melhor, mais do que uma curta, Cam podia muito bem ser um episódio do Black Mirror, até pela sua ligação à tecnologia. E aí teria sido, certamente, um dos melhores momentos da série. Como filme é, mesmo assim, um interessante McChicken.

Título: Cam
Realizador: Daniel Goldhaber
Ano: 2018

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