Como já conhecia o Steve McQueen da vídeo-arte, quando ele fez o Fome, confesso que pensei que ele fosse mais um daqueles tipos armados ao pingarelho convencidos que podem ser realizadores só porque são minimamente conhecidos. Contudo, tanto esse como o Vergonha convenceram-me e passei a encará-lo a sério. Bem a sério. Até que apareceu este 12 Anos Escravo, com Oscares escrito por todo o lado, e eu voltei a torcer o nariz. Mas o homem já tinha provado não merecer a minha desconfiança.
McQueen abandonou então o formalismo rígido dos seus trabalhos anteriores, para fazer aqui o seu filme mais convencional. Se bem que, de início, também parece que vai colocar o corpo do seu protagonista à prova. Depois da greve de fome de Michael Fassbender, a cena em que Chiwetel Ejiofor é chicoteado (lembram-se de A Paixão de Cristo?) dá-nos um murro no estômago e ficamos a pensar que estamos em território conhecido. Mas é sol de pouca dura, porque rapidamente tudo volta à normalidade.
Obviamente que não há nada de normal nesta história verídica de um negro que, no século XIX, foi raptado e vendido para escravo no sul dos Estados Unidos. 12 Anos Escravo é um drama duro e seco, mas que não tem a crueza dos filmes anteriores de Steve McQueen. Basta ver como o dia é salvo pelos 10 minutos em cena de Brad Pitt, o bonitão que entra no filme para repôr a justiça. Um gesto sintomático do que é 12 Anos Escravo.
Devido à proximidade temporal, são inevitáveis as comparações com Django Libertado; e esse é outro ponto a desfavor de 12 Anos Escravo. Se não tivessemos visto Django Libertado, 12 Anos Escravo bateria mais, mas depois do que Tarantino fez do tema da escravatura (mesmo sem ser o seu melhor filme, longe disso) este deixa-nos água na boca. Não que seja um mau filme – antes pelo contrário -, até porque as interpretações de Ejiofor ou Lupita Nyong’o são um valor acrescentado, mas há uma normalização suficiente para que este McBacon saiba claramente a pouco.
Título: 12 Years a Slave
Realizador: Steve McQueen
Ano: 2013