Neil Armstrong, o primeiro homem que nos querem fazer acreditar que pisou a Lua, também era conhecido por Neil A. O que, lido de trás para a frente, dá Alien. Pausa para mindblown! Mas disto não nos falam eles, não é? Porque não interessa. Nem disso nem das filmagens do Stanley Kubrick, mas para esta última parte já existe um filme sobre essa teoria da conspiração bem giro, que é o Capricórnio Um.
Antes que venham para aí discutir se o homem foi mesmo à lua ou não (basta ir aos comentários no Público e apanhar logo o comentário de um tipo que não acredita(!)…), interessa desde já realçar que O Primeiro Homem na Lua, apesar de ser um biopic de Neil Armstrong, nomeadamente entre o período que o tornaram no astronauta da NASA a comandar a Apollo 11 que pisou o solo lunar pela primeira vez na História, é mais um filme sobre determinação e sobre responsabilidade. A responsabilidade de um homem perante o seu país e toda a Humanidade versus a responsabilidade desse mesmo homem perante si mesmo e a própria família. Por isso, a tradução portuguesa do título, que lhe adiciona o redundante na lua, anula toda a força dessa afirmação: o primeiro homem. É um título quase bíblico!
Ryan Gosling é então Neil Armstrong, que interpreta seguindo as lições que tem aprendido com Nicolas Wending Refn desde Drive – Risco Duplo: com cara de cu e pouca expressividade, como se isso fosse sinónimo de intensidade e introspecção. Armstrong era o típico norte-americano de classe média, com uma casa nos subúrbios com jardim e cerca branca e uma família com uma mulher bonita e dois filhos pequenos. Mas igualmente marcado pela morte precoce da filha bebé, um fantasma que o vai acompanhar durante os anos seguintes, em que entra para o programa Gemini da NASA, que procurava colocar um homem a andar na Lua pela primeira vez e, assim, ganhar a corrida ao espaço à União Soviética.
O grande trunfo de O Primeiro Homem na Lua é a forma como Damien Chazelle opta por filmar esta história. É que o realizador norte-americano fa-lo com uma escala humana, reduzindo um filme sobre a conquista do espaço aquele homem, reforçando esta ideia do filme ser sobre o primeiro homem. Não há cá panorâmicas, planos incríveis de estrelas e planetas ou CGI. Chazelle opta pela câmara ao ombro e aproxima-se da cara dos actores, quase sempre em grandes planos ou planos fechados, entrando com eles nas suas minúsculas cápsulas. E esta aproximação ao real que dá uma dimensão quase palpável ao filme – isso e o formato em 16 e 35 milímetros – permite-nos também perceber a situação precária daquela demanda, com tecnologia ainda muito primitiva, materiais que rangem por todo o lado e que ameaçam ceder a qualquer momento.
Numa altura em que o cinema é espectáculo e que filmes como Gravidade vivem apenas do uau visual e sonoro, O Primeiro Homem na Lua está quase em contramão, assumindo-se quase como anti-espectáculo. Aproxima-se assim mais das coreografias formalistas de Kubrick em 2001: Odisseia no Espaço do que os filmes espaciais recentes (mas com Revel em vez de Strauss), se bem que é filmado como se Chazelle estivesse no Ondas de Paixão, em que tudo treme, às vezes até em demasia. Espanta que o realizador seja o mesmo de La La Land – Melodia de Amor, filme que apostava tudo na tecla do espectáculo, mas a forma como o filme usa a música (numa banda-sonora cheia de theremins e moog, em mais uma onda nostálgica de sci-fi) não deixa enganar que este é o mesmo homem que nos habituou a filmes musicais (ou sobre música).
Falta a O Primeiro Homem na Lua uma maior profundidade e densidade dramática sobre a personagem de Neil Armstrong, especialmente na sua faceta familiar. No entanto, só o facto de este ser sobre o homem e não sobre a ida à Lua faz com que seja mais fácil gostar dele logo à partida. Isso e de não ser nenhuma loa laudatória à conquista espacial norte-americana, de bandeiras desfraldadas e homens que se superaram em nome de um desígnio maior. É antes um filme bem racional e humano, de um homem que tinha sobretudo medo, mas que decidiu enfrenta-lo de frente para não ser derrotado por ele. É filme para Oscar, é certo, e com tendência a cair rapidamente no esquecimento, mas com mais méritos do que estes filmes habitualmente costumam ter. O McChicken premeia Damien Chazelle.
Título: First Man
Realizador: Damien Chazelle
Ano: 2018