De quando em vez, lá alguém se lembra de ressuscitar a eterna discussão da influência da música rock (o heavy e o punk, especialmente) no comportamento dos jovens. Normalmente isso acontece com mais fervor quando acontece um episódio particularmente violento, como foi o caso do massacre de Columbine. Quem não se lembra das acusações a Marilyn Manson pela influência nociva naqueles dois atiradores precoces? Por isso, não deixa de ser pertinente que, num dos melhores momentos de Bomb City, o autor de Antichrist Superstar apareça a apontar-nos precisamente o dedo: como podemos acusar a música rock de levar à violência dos jovens, quando esta nos entra em casa em prime time todos os dias? Só é pena é que o filme, quando revela o autor do discurso, já seja quase no fim, quando já ninguém se lembra que foi com aquelas palavras que o filme precisamente começou. Problemas de uma edição mais ou menos desajeitada…
Spoilers à parte, o discurso de Marilyn Manson que o realizador Jameson Brooks vai buscar para Bomb City refere-se precisamente ao caso verídico que o filme documenta: o do jovem punk Brian Deneke (Dave Davis), morto numa rixa por outro miúdo, desportista e betinho (Luke Shelton). Não é que seja a primeira vez que as gangues de jovens se envolvem em duelos com baixas mortais, mas há aqui um plot twist: apesar de considerado culpado, o jovem cumpriu a pena em liberdade, claramente devido ao facto de ser um branco da classe média, enquanto o outro era um zé-ninguém, de crista e com um estilo de vida condenável.
Bomb City é assim uma espécie de versão contemporânea de Os Marginais, mas com punks em vez de greasers (porque os jocks continuam lá, o que se calhar quer dizer alguma coisa). Jameson Brooks tenta por começar por fazer um retrato socio-cultural tanto daquela lugarejo no Texas, daqueles onde o tempo se consome a si próprio por não haver nada para fazer, como daqueles dois jovens: um, que encontra no punk um escape para o no future; e o segundo, um betinho que procura na aceitação social uma razão para crescer.
A ideia é que não há propriamente culpados e que ambos são vítimas das condicionantes da época em que vivemos – é por isso que está lá o tal discurso de Marilyn Manson -, mas o facto de Bomb City optar por colocar Brian Deneke como protagonista fá-lo colocar-se, logo à partida, num dos lados da contenda. Além disso, é impossível escapar a esse olhar enviesado quando existe um olhar algo condescendente perante a comunidade punk em geral e aqueles jovens em particular.
Mas Bomb City até nem é um mau filme. Sofre é da falta de confiança de Jameson Brooks, que sente a necessidade de, no acto decisivo do filme, encher tudo de câmaras-lentas, fazendo parecer que o filme passa a ter, de repente, umas quatro horas de duração. E, no epílogo, mostra-nos um par de cartões com mensagens sobre o desenlace daquele caso real, onde aparece informação que passa ao lado durante todo o filme e sobre a qual gostaríamos de ter visto mais. Por isso, Bomb City vale pelo caso real, mas apesar de não ter propriamente uma escala televisiva, podia muito bem ser um Double Cheeseburger feito de encomenda para um daqueles telefilmes de casos da vida.
Título: Bomb City
Realizador: Jameson Brooks
Ano: 2017