| CRÍTICAS | Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões

A abertura de Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões, com pai e filho a furtarem pequenos produtos num supermercado, muito à O Carteirista, diz-nos logo ao que vamos. Quer dizer, bastava olharmos para o título do filme para o percebermos, mas fica muito melhor abrir uma prosa com uma referência a Bresson, não acham?

Hirozaku Koreeda apresenta-nos então, aos poucos – porque ele é um cineasta que não gosta de dizer tudo logo de uma só vez -, uma família que vai vivendo mais ao menos à margem da lei. O pai e o filho praticam pequenos furtos, a mãe é operária fabril precária, a irmã da mãe mostra as maminhas num peep show e a avó finge morar sozinha para enganar a Segurança Social. Há muito mais do que isto, incluindo esqueletos no armário (e no jardim), mas é precisamente a forma subtil com que Koreeda os vai destapando que dá piada a Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões.

Durante grande parte do tempo, Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões é apenas uma crónica familiar japonesa, sobre as dinâmicas daquele núcleo: a alimentação, o trabalho, as rotinas e até os sexo. Obviamente que é inevitável referir a influência de Ozu, até porque não quero ser o primeiro ocidental a escrever sobre um filme japonês e não o fazer, mas há aqui outra referência decisiva: Hayao Miyazaki. E não o digo sequer pelas semelhanças entre a avó, Kirin Kiki, e a velhota de A Viagem de Chihiro. É antes pelo papel predominante da família, naquela abordagem muito Steven Spielberg. E muito Frank Capra. E muita Disney. E, e, e…

É que Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões é uma reflexão sobre a família e sobre como esta nada tem a ver com sanguinidade (que é uma ideia muito comunista). E quando Koreeda levanta o véu e revela a tragédia há muito anunciada, já nós fazemos parte daquele núcleo familiar sem darmos conta. E a partir daí é impossível escapar. É esse o trunfo de Hirokazu Koreeda, na forma simples como nos vai enleando na sua teia, sem ser melodramático ou manipulador. É o seu McRoyal Deluxe mais saboroso, desde Ninguém Sabe, outro filme em que a família (ou a ausência dela, neste caso) é a temática central.

Título: Manbiki Kazoku
Realizador: Hirokazu Koreeda
Ano: 2018

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