Estamos no século XV. Toda a América do Sul está ocupada pelos espanhóis… Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis uaiús resiste agora e sempre ao invasor.
Os uaiús nunca foram realmente colonizados pelos espanhóis e, ainda hoje, são uma cultura à parte na própria Colômbia. Este povo ameríndio tem uma história de resistência estóica que faz quase parte do seu ADN, lado-a-lado com uma grande componente supersticiosa. E, além disso, tiveram um papel fundamental no papel fundamental da Colômbia nos fluxos do narcotráfico internacional. Antes de Pablo Escobar, houveram os uaiús, que começaram a produzir a exportar erva para os Estados Unidos.
Pássaros de Verão é um épico familiar ao longo de duas décadas, que segue o clã de Rapayet (José Acosta), desde que despoja a jovem Zaida (Natalia Reyes) e se junta ao clã da poderosa Úrsula (Carmiña Martínez) até se estabelecer como um dos principais traficantes de erva na Colômbia. Pelo meio, a violência do narcotráfico caminha de mãos-dadas com a cultura dos uaiús e os seus rituais religiosos.
Pássaros de Verão é como se O Padrinho (ou mesmo o Narcos) fosse realizado por Jean Rouch. Aliás, esse é o grande trunfo da dupla Cristina Gallego e Ciro Guerra, que têm desenvolvido um corpo de obra bastante interessante em redor destes temas: o de conseguirem evitar um qualquer ponto de vista eurocêntrico ou ocidentalizado. Isso faz com que Pássaros de Verão nos dê um par de momentos de grande beleza visual, o que também ajuda ter como pano de fundo o deserto de Guajira.
Esta saga familiar de vinte anos é um filme de grande fôlego, mas que passa como um suspiro normal, já que não precisa de truques (narrativos ou formais) para se destacar. E, tal como O Padrinho, exalta os valores da família (leia-se do clã), da tradição e da religião como pilares fundadores. Este McRoyal Deluxe é um menu de inesperada satisfação, para um filme tão surpreendente quanto recomendável.
Título: Pájaros de Verano
Realizador: Cristina Gallego & Ciro Guerra
Ano: 2018