Luis Buñuel considerava Uma Mulher sem Amor como o seu pior trabalho. Realizado em 1952, durante a sua fase mexicana, o filme limita-se a trazer para o México de então o romance Pierre et Jean, de Guy de Maupassant. Mas, sejamos sinceros, não é isso que é toda a fase mexicana de Buñuel?
No fundo, até existem semelhanças entre as obras de Guy de Maupassant e Luis Buñuel. É certo que este último começou pelo surrealismo, mas quando cruzou o Atlântico para o México acabou por se aproximar cada vez mais do realismo do melodrama, tal como o primeiro. E assim como o autor francês, também Buñuel tinha na crítica dos valores o seu tema preferido.
Uma Mulher sem Amor vai assim beber a esses temas que são comuns encontrar no corpo de obra de Luis Buñuel: a crítica dos valores sociais, o papel da mulher e, de certa forma (se bem que muito ao de leve), a influência da religião. A trama conta-se de forma rápida e fácil: Rosario (Rosario Granados) casa-se não por amor, mas para fugir à miséria e, sobretudo, porque era assim que deveria ser. Por isso, a determinada altura, não resiste a um caso breve com um falinhas mansas (Tito Junco). No entanto, apesar de ter sido um caso passageiro, ele voltará para atormentar a sua vida familiar muitas décadas mais tarde, já quando os filhos desta estão crescidos e prestes a emanciparem-se.
Buñuel segue a cartilha do melodrama de Hollywood e a linguagem do género, sabendo jogar e explorar o não-dito. Não é por acaso que, só perto do final, se fale pela primeira vez abertamente de traição e infidelidade, quando esse é o tema de todo o filme. Essa é a melhor coisa de Uma Mulher sem Amor, filme cujo realismo faz com que o cinema de autor de Buñuel se desvaneça na paisagem. É mau? Não! Mas é quase tão esquecível quanto a restante fase mexicana de Buñuel. E a diferença entre este Double Cheeseburger e quase todos os seus outros trabalhos desta altura é praticamente nenhuma.
Título: Una Mujer Sin Amor
Realizador: Luis Buñuel
Ano: 1952