São tempos incríveis para estarmos vivos. No meu tempo, existiam tão poucos filmes sobre jogos de computador que, quando aparecia um, nós já nos dávamos por satisfeitos do simples facto de eles existirem. Não queríamos cá saber de como é que as personagens se pareciam (e olhem que haviam umas que se assemelhavam a isto). Mas hoje estamos tão mal habituados que, quando saiu o trailer de Sonic – O Filme, houve um backlash tão grande na net sobre o aspecto do Sonic que obrigou a produtora a adiar a estreia para fazer novos renders no filme e mudar o aspecto do boneco.
Eis então Sonic – O Filme, com um Sonic mais cartunizado e próximo do que conhecemos do jogo. Sonic é um ouriço azul, que corre super-rápido, colecciona anéis e que foi a cara da Sega, quando o mundo das consolas estava reduzido a esta e à Nintendo. Era portanto uma guerra entre o Sonic e o Super Mário. O segundo parece ter saído vencedor, mas a nostalgia à volta do primeiro continua forte.
Sonic – O Filme é então a continuação da boa tradição de Quem Tramou Roger Rabbit?, em cruzar imagem real com animação. Mas substituindo a animação pelo CGI. Ou seja, é um mundo onde a realidade se cruza com seres animados de outras dimensões, como se isso fosse natural. E não é? Com a suspensão da crença, tudo vale na sétima arte.
Os anéis que Sonic apanha são então portais inter-dimensionais e é assim que o ouriço super-sónico chegou à Terra. Vive uma vida de distanciamento social muito antes da quarentena do covid-19 a ter generalizado, o que o faz ser um solitário que sofre com a solidão. Por isso, criou uns laços de amizade com algumas pessoas lá da terreola onde vive, a saber: o polícia (James Marsden), que sonha em fugir daquele fim do mundo e tornar-se detective em São Francisco; e a namorada dele (Tika Sumpter). O plot wist aqui é que eles não sabem que têm um amigo chamado Sonic.
Quando o governo norte-americano percebe que há uma criatura esquisita à solta, vão colocar no sue encalço o sinistro Dr. Robotnik, um Jim Carrey em full mode, fazendo lembrar os tempos de A Máscara. O problema é que as piadas raramente têm graça e, na maior parte das vezes, Carrey cai no overacting pateta e inconsequente. Mesmo assim, não deixa de ser divertido ver o regresso do bom e velho Jim Carrey.
Sonic – O Filme é então uma perseguição a alta velocidade entre o ouriço azul super-rápido e o seu novo-amigo polícia por parte de um tipo sinistro super-inteligente (estão a ver o Sheldon? Cruzem-no agora com a insolência de A Máscara) e o seu exército de robots, drones e outra maquinaria pesada. A coisa é meio inconsequente e esvaziada de sentido, mas é precisamente essa leveza que o tornam num bom blockbuster desmiolado, para ver com o cérebro desligado. Ou seja, não procura inventar em demasia, faz meia-dúzia de rimas com aspecto dos velhinhos jogos da Mega Drive (ai, a nostalgia a atacar) e entretém durante hora e meia. No final, já não nos lembrámos de nada do que vimos, mas a caixa vazia diz que foi um Double Cheeseburger que acabámos de almoçar.
Título: Sonic the Hedgehog
Realizador: Jeff Fowler
Ano: 2020