Da primeira vez que vi o A Leste do Paraíso, fiquei um pouco desiludido e não percebi muito bem porquê. Vivia um período da minha vida em que me fechava em casa a cada oportunidade a ler tudo o que a Biblioteca Municipal da Marinha Grande tinha do Steinbeck. Já tinha lido o romance e sabia que seria impossível um filme fazer-lhe justiça. De facto, não faz. Mas o problema parecia ser outro.
Ao passo que o perfeito romance do John Steinbeck faz um paralelismo bíblico que dá vontade de ir ler o Génesis (coisa que também fiz na altura) como grelha de leitura de problemas da condição humana que são eternos, o filme de Elia Kazan parece ficar-se pelo drama de angústia adolescente. Mas porquê? A culpa não é de Kazan que, com mestria, nos envolve na ação sem que nos demos conta. A culpa não é da história que, mesmo brutalmente amputada, aguenta-se a qualquer teste de robustez menos o da comparação com o romance, claro. Mas então eu qual é o problema deste filme que é tão bom e ao mesmo tempo deixa um sabor tão estranho na língua?
Percebi, ao revê-lo, que o problema se chama James Dean. Finalmente consegui ultrapassar o tabu e admitir para mim mesmo, o que salta à vista: James Dean era um péssimo actor. Dizer o seu nome na mesma frase de Marlon Brando ou Paul Newman é um sacrilégio, uma ofensa capital contra os deuses da representação. Ao rever A Leste do Paraíso, percebi que no meio de representações brilhantes, uma realização genial e uma história brilhante, o James Dean passa o filme todo a estragá-lo.
É que, afinal de contas, qual será o limite de um espectador ao ver o James Dean correr desconchavado, ou fazer cara de torturado ou a sobre-representar de forma confrangedora? Eu sei que o mestre não podia chegar a todas, mas não consigo não pensar no que seria este filme com Brando em vez de Dean. E que filme seria… Assim, deixa sempre aquele sabor amargo de um McBacon que podia tão facilmente ser um Royale with Cheese.
Título: East of Eden
Realizador: Elia Kazan
Ano: 1955