Hachiko – Amigo para Sempre é o filme perfeito para se tornar no filme favorito do eleitor-modelo do PAN: aquele que diz que os animais são melhores que as pessoas, defende a pena de morte/tortura/whatever a quem maltrata animais e acha que o IRA é a melhor instituição à face da Terra. Por falar nisso, já pensaram que o tofu nunca começou nenhuma pandemia?
Hachiko – Amigo para Sempre é a história do cão que, após a morte do dono, continuou a ir espera-lo todos os dias na estação dos comboios em Shibuya, no Japão. Quando o cão morreu também, a autarquia local ergue-lhe uma estátua, que se tornou rapidamente num símbolo de lealdade e amor incondicional. E de como os animais são melhores do que os humanos. A historia já tinha dado direito a um filme – Hachi-ko -, mas como Hollywood gosta de rentabilizar apostas fáceis de dinheiro garantido, eis a versão norte-americana.
Como Hachiko é um akita, uma raça japonesa, e o filme é norte-americano, há que criar uma introdução manhoso de como o cão viajou até aos Estados Unidos, se perdeu e foi encontrado e adoptado por Richard Gere, com quem cria automaticamente um elo inquebrável. E como bom filme de Hollywood que é, o oriente é sempre uma coisa mística. Por isso, Hachiko tem algo de predestinado, exótico e especial ao mesmo tempo. Uma espécie de ninja dos canídeos.
A fórmula de Hachicko – Amigo para Sempre é daquelas impossíveis de falhar, like shooting fish in a barrel. Há um cachorro fofinho a fazer coisas fofinhas e pronto, está o filme ganho. Mesmo assim, o realizador Lasse Hallstrom podia ter-se esforçado um bocadinho. O cão não tem piadinha nenhuma, do nada surgem planos POV do cão a preto-e-branco (porque os cães vêem a preto-e-branco, estão a ver? Bué pertinente, não é?) e não acontece nada entre Richard Gere e Hachiko que justifique tanta amizade entre os dois. Aliás, o único episódio em que ambos têm uma aventura juntos é quando tentam apanhar um doninha(?) e que, além de ser feita com os pés, é completamente metida a martelo. Qualquer animal movie daqueles em que um cão joga basquete ou um macaco hóquei dá 15 a 0 a este em carisma. Bem que Hachiko podia ser um cão-ninja, com tanta misticidade oriental…
Além disso, Hachiko – Amigo para Sempre tem um grande problema de progressão temporal, em que o cão envelhece a um ritmo diferente do resto das pessoas. Numa cena, a filha de Gere está grávida, na outra já o bebé tem quase idade para votar; numa cena o cão ainda é cachorro e na outra já é adulto e ainda Gere não lhe tentou ensinar nenhum truque; e por aí fora. E depois há a cereja no topo do bolo: a cena em que Gere passa a noite com Cate Wilson como marido e mulher (wink wink) e o cão fica com ciúmes. Que grande símbolo de lealdade. Sabem o que é que Hachiko – Amigo para Sempre não é? Um exemplo de bom cinema.
Título: Hachi: A Dog’s Tale
Realizador: Lasse Hallstrom
Ano: 2009