Em Assassinos, o filme de Richard Donner de 1995, Antonio Banderas recebia uma encomenda para matar Sylvester Stallone, o maior assassino de todos os tempos, e nem sequer se importava porque via isso como uma oportunidade de matar o mestre e provar que era o melhor no negócio. Em Killing Gunther é basicamente o mesmo: Blake (Taran Killam) quer matar Gunther, o Pelé dos assassinos a soldo, para ascender na hierarquia dos melhores de sempre. Mas Killing Gunther é o Assassinos com um twist: a acompanha-los vai estar uma equipa de filmagem, porque Blake quer que tudo fique registado, para não haver cá dúvidas.
Killing Gunther é assim um mockumentário, que apesar de não ser para se levar muito a sério, nunca desmonta o dispositivo e consegue ser mais credível que muito filme de found footage que por aí anda. Pelo tema e pelo formato, lembra outro clássico que continua a ser muito injustamente subvalorizado: Manual de Instruções para Crimes Banais, outro mockumentário sobre serial killers, que subverte toda a indústria de morte que Hollywood normalizou, especialmente em filmes de género.
Killing Gunther é assim uma paródia aos action movies, com um humor muito camp, que lembra amiúde John Waters. É uma espécie de Cecil B. Demente, mas com assassinos em vez de realizadores de cinema. Blake, para cumprir a sua demanda, junta em seu redor uma série de outros assassinos, que são eles próprios umas peças únicas: um casal de russos extremamente cruéis e fascinados pelos Estados Unidos; uma iraniana (Hannah Simone) com daddy issues; um especialista em bombas (Bobby Moynihan) solitário; o habitual geek especialista em computadores (Paul Brittain); e um elegante assassino que só mata com… venenos que atira em frasquinhos (Aaron Yoo).
Depois de uma hora de percalços e contratempos, em gags circunstanciais que banalizam o que aquele grupo está a tentar fazer – matar um homem!, lembram-se? -, eis que surge em cena, finalmente, Gunther. Ele é Arnold Schwarzenegger e, a partir daí, o filme transforma-se no seu one man show. Primeiro há os meta-diálogos, em que emula os seus melhores momentos de Predador ou Exterminador Implacável; e depois é toda uma sucessão de Arnie em diferentes disfarces: vestido à tirolês, a cantar música country, armado em dandy… A coisa tem piada nos primeiros 5 minutos, mas rapidamente se torna cansativo e repetitivo.
No final, Killing Gunther termina e não há qualquer pathos ou o que quer que seja. O filme tem graça – e é, claramente, o melhor filme de Arnie no seu pós-governador -, mas teríamos preferido ter visto o resto do McBacon do que termos entrado nesse loop de Schwarzenegger a tentar ter piada.
Título: Killing Gunther
Realizador: Taran Killam
Ano: 2017