O anúncio é feito por Kate Lyn Sheil, já o filme começou há algum tempo, e é acompanhado pelo título e por uma música dramática muito alta: ela vai morrer amanhã. Não há muito mais explicações, mas pelo comportamento errático de Kate Lyn Sheil pela casa, a ouvir a Lacrimosa do Mozart em loop, e pela sua chamada dramática para a amiga Jane Adams, deduzimos que a sua saúde mental já teve melhores dias. O que provocou aquela depressão? Uma relação amorosa?
She Dies Tomorrow não é um filme de respostas, mas de muitas perguntas. Até porque na vida só temos uma certeza: a de que todos vamos morrer. Por isso, She Dies Tomorrow é precisamente uma reflexão sobre a perenidade da vida e sobre a angústia existencial da fatalidade. No entanto, a proposta da realizadora Amy Seimetz é mais… absurda. E se esse sofrimento fosse contagioso?
Assim, a partir do ponto que Kate Lyn Sheil anuncia que vai morrer amanhã, a mesma inquietação passa para a amiga. E depois para o irmão desta, quando ela anuncia o mesmo. E para a mulher do irmão. E a filha de ambos. E assim sucessivamente. É o tipo de coisas que Luís Buñuel haveria adorado.
She Dies Tomorrow é, no entanto, um filme tétrico, que causa inquietação ao se alicerçar nos símbolos do cinema de género. A forma como utiliza a música e a edição de som, a cor e a luz (Argento iria também gostar) e o suspense perante o desconhecido transformam-no num filme de terror, mas sem criaturas, presenças ou outros sustos. A única ameaça é a presença da morte.
O problema é que She Dies Tomorrow, que daria para uma excelente curta, resulta numa longa aborrecida. É o problema dos filmes sensoriais, não conseguem prolongar a sua experiência durante muito tempo sem novos estímulos. E, apesar da proposta arrojada, She Dies Tomorrow não deixa de ser um filme experimental, que muito depressa se fecha na sua própria caixa. A caixinha do Happy Meal, entenda-se.
Título: She Does Tomorrow
Realizador: Amy Seimetz
Ano: 2020